sexta-feira, 11 de março de 2005

Halo Luminoso

“Analisemos por um momento um espírito vulgar no decorrer de um dia vulgar. O espírito recebe uma miríade de impressões – triviais, fantásticas, efémeras ou gravadas com a veemência do aço. Surgem de todos os lado, chuva contínua de átomos inumeráveis, e, à medida que vão caindo, à medida que vão tomando a forma de uma segunda ou terça-feira, a ênfase recai de um modo sempre diferente, o momento com importância já não é este ou aquele; fosse o escritor um homem livre e não um escravo, pudesse ele escrever sobre o que optou e não sobre aquilo a que o obrigam, pudesse ele fundar a obra sobre o seu próprio sentimento e não sobre a convenção, não haveria enredo, nem comédia, nem tragédia, nem interesse amoroso, nem catástrofe segundo os cânones estabelecidos, porventura nem um só botão pregado à moda dos alfaiates de Bond Street. A vida não é uma série de lanternas de um comboio simetricamente dispostas. A vida é um halo luminoso, um invólucro semi-transparente que nos envolve do primeiro ao último momento da consciência.”

"Examine for a moment an ordinary mind on an ordinary day. The mind receives a myriad impressions - trivial, fantastic, evanescent, or engraved with the sharpness of steel. From all sides they come, an incessant shower of innumerable atoms; and as they fall, as they shape themselves into the life of Monday or Tuesday, the accent falls differently from of old; the moment of importance came not here but there; so that, if a writer were a free man and not a slave, if he could write what he chose, not what he must, if he could base his work upon his own feeling and not upon convention, there would be no plot, no comedy, no tragedy, no love interest or catastrophe in the accepted style, and perhaps not a single button sewn on as the Bond Street tailors would have it. Life is not a series of gig lamps symmetrically arranged; life is a luminous halo, a semi-transparent envelope surrounding us from the beginning of consciousness to the end.”

Virginia Woolf, “Modern Fiction”, The Common Reader (1919) 1 in Collected Essays, London, Hogarth Press, 1966-7, II 106

Sem comentários: