domingo, 30 de janeiro de 2005
No dia 30 de Janeiro de 1948, Mohandas Gandhi, conhecido como "Mahatma" ("Grande Alma"), aquele que nos interpelava a "viver como se morrêssemos hoje e a aprender como se vivêssemos sempre", foi assassinado por um hindu fundamentalista, Nathuram Godse. A razão apresentada para o crime: Gandhi condenava qualquer acto de violência dos hindus em relação a crentes islâmicos.
sábado, 29 de janeiro de 2005
Lição do Midrach
"Por que razão foi o homem criado no último dia? Para que quando ele se encher de orgulho lhe possa ser dito: 'na criação do mundo, o mosquito surgiu antes de ti'."
Midrach Rabba
Midrach Rabba
Céu azul
"Poderá o céu azul que todos vemos, o misterioso céu azul visto de modo idêntico por todos nós, alguma vez ser posto em palavras?" Mishima, Sol e Aço, citado por Pedro Paixão, Portokyoto. Nuvens à deriva
sexta-feira, 28 de janeiro de 2005
Trevas
O termo "trevas" (darkness) na obra de Conrad desempenha várias funções simbólicas, algumas mais evidentes, outras nem por isso. Em primeiro lugar, é um termo que tem a sua raiz na Aufklärung e que designa aquilo que, por um lado, se opõe ao nosso conhecimento e, por outo, é susceptível de ser "iluminado" (conhecido). Conrad, ao publicar esta obra nos princípios do século XX, mostra como esse ideal, alimentado pelo positivismo vigente dos finais do século XIX, se desintegrou. Em segundo lugar, as trevas expressam a barbárie que se opõe à civilização; afinal, Kurtz era o símbolo do progresso, amante das artes e das ciências... quando Marlow o conhece na "estação interior", depois da transmutação radical, então, sim, tem a percepção que é um "homem notável", apesar da sua alma estar completamente "louca". Desde o início do romance até à frase que o conclui, a barbárie aparece como o "outro lado" da civilização (a proximidade, aqui, com a Montanha Mágica de Thomas Mann é notável; ou então, com o Doutor Fausto, quando nos é dito que a cultura não é mais do que a incorporação das trevas no culto dos deuses). Em terceiro lugar, as trevas traduzem o lado sombrio da alma humana, sendo a viagem pelo rio a metáfora do nosso percurso interior. Finalmente, as trevas são a Natureza com letra grande, tudo aquilo que, na sua força, está para lá da mesquinhez e dos intereses humanos.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2005
Sulamita
Fuga sobre a Morte
Leite-breu d' aurora nós bebemo-lo à tarde
nós bebemo-lo ao meio-dia e de manhã nós bebemo-lo à noite
bebemos e bebemos
cavamos uma cova grande nos ares em que ninguém se deita perto
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
ele escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
ele escreve e aparece em frente à casa e brilham as estrelas ele assobia e chama seus mastins
ele assobia e chegam seus judeus manda cavar uma cova na terra
ordena-nos agora toquem para dançarmos
Leite-breu d'aurora nós bebemos-te à noite
nós bebemos-te de manhã e ao meio-dia nós bebemos-te à tarde
bebemos e bebemos
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
que escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
Teus cabelos de cinza Sulamita cavamos uma cova grande nos ares em que ninguém se deita perto
Ele grita cavem mais até o fundo da terra vocês ali vocês ali toquem e dancem
ele pega o ferro na cintura balança-o seus olhos são azuis
cavem mais fundo as pás vocês aí vocês ali continuem tocando para dançarmos
Leite-breu d' aurora nós bebemos-te à noite
nós bebemos-te ao meio-dia e de manhã nós bebemos-te à tardinha
bebemos e bebemos
Na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita ele brinca com as serpentes
Ele grita toquem mais doce a morte a morte é uma mestra da Alemanha
Ele grita toquem mais escuro os violinos depois subam aos ares como fumaça
e terão uma cova grande nas nuvens onde ninguém se deita perto
Leite-breu d'aurora nós bebemos-te à noite
nós bebemos-te ao meio-dia a morte é uma mestra da Alemanha
nós bebemos-te à tarde e de manhã bebemos e bebemos
a morte é uma mestra da Alemanha seu olho é azul
ela atinge -tecom bala de chumbo atinge-te em cheio
na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete
ele atiça seus mastins contra nós dá-nos uma cova no ar
ele brinca com as serpentes e sonha a morte é uma mestra da Alemanha
teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita
Paul Celan
Todesfuge
Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen
Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith
Paul Celan
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2005
O Professor
Esiste um inegável paralelismo entre "Mistah Kurtz" e o sinistro "Professor" do Agente Secreto de Conrad. É evidente que a figura de Kurtz não se esgota na atitude inquietante do professor bombista, mas este desejo de regeneração da mediocridade do mundo pela "loucura" e pelo "desespero" é comum às duas personagens de Conrad. Julgo que ainda não se deu a devida atenção à capacidade profética de Joseph Conrad de antever as ideologias simultaneamente totalitárias e niilistas que irão assolar a Europa nos anos 30.
E aqui fica uma passagem do Agente Secreto, obra espantosa que, em termos literários, iniciará um estilo que apenas será cultivado por mestres como Graham Greene e John le Carré.
"Toda a paixão está agora perdida. O mundo é medíocre, fraco e sem força. E a loucura e o desespero são uma força. E a força é um crime aos olhos dos malucos, dos fracos e dos imbecis que governam. (...) Toda a gente é medíocre. Loucura e desespero! Dê-me isso como alavanca e eu moverei o mundo. (...) E o incorruptível professor caminhava (...) desviando os olhos da odiosa humanidade. (...)Ele era uma força. Os seus pensamentos acolhiam as imagens de ruína e de destruição. Caminhava frágil, insignificante, descuidado, miserável e terrível, na simplicidade da sua ideia de chamar loucura e desespero à regeneração do mundo."/"All passion is lost now. The world is mediocre, limp, without force. And madness and despair are a force. And force is a crime in the eyes of the fools, the weak and the silly who rule the roost. (...) Everybody is mediocre. Madness and despair! Give me that for a lever, and I'll move the world. (...) And the incorruptible Professor walked (...) averting his eyes from the odious multitude of mankind. (...) He was a force. His thoughts caressed the images of ruin and destruction. He walked frail, insignificant, shabby, miserable--and terrible in the simplicity of his idea calling madness and despair to the regeneration of the world."
Joseph Conrad, Secret Agent
E aqui fica uma passagem do Agente Secreto, obra espantosa que, em termos literários, iniciará um estilo que apenas será cultivado por mestres como Graham Greene e John le Carré.
"Toda a paixão está agora perdida. O mundo é medíocre, fraco e sem força. E a loucura e o desespero são uma força. E a força é um crime aos olhos dos malucos, dos fracos e dos imbecis que governam. (...) Toda a gente é medíocre. Loucura e desespero! Dê-me isso como alavanca e eu moverei o mundo. (...) E o incorruptível professor caminhava (...) desviando os olhos da odiosa humanidade. (...)Ele era uma força. Os seus pensamentos acolhiam as imagens de ruína e de destruição. Caminhava frágil, insignificante, descuidado, miserável e terrível, na simplicidade da sua ideia de chamar loucura e desespero à regeneração do mundo."/"All passion is lost now. The world is mediocre, limp, without force. And madness and despair are a force. And force is a crime in the eyes of the fools, the weak and the silly who rule the roost. (...) Everybody is mediocre. Madness and despair! Give me that for a lever, and I'll move the world. (...) And the incorruptible Professor walked (...) averting his eyes from the odious multitude of mankind. (...) He was a force. His thoughts caressed the images of ruin and destruction. He walked frail, insignificant, shabby, miserable--and terrible in the simplicity of his idea calling madness and despair to the regeneration of the world."
Joseph Conrad, Secret Agent
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terça-feira, 25 de janeiro de 2005
Heart of Darkness
"[Kurtz] deu o derradeiro passo, ultrapassou os limites enquanto foi consentido um recuo aos meus pés hesitantes. E talvez aqui esteja a verdadeira diferença; talvez todo o saber, toda a verdade e toda a sinceridade se concentrem nesse inapreciável instante em que transpomos o limiar do invisível. Talvez!"/he [Kurtz] had made that last stride, he had stepped over the edge, while I had been permitted to draw back my hesitating foot. And perhaps in this is the whole difference; perhaps all the wisdom, and all truth, and all sincerity, are just compressed into that inappreciable moment of time in which we step over the threshold of the invisible. Perhaps!"
Joseph Conrad, Heart of Darkness
Joseph Conrad, Heart of Darkness
segunda-feira, 24 de janeiro de 2005
Dagerman
"Nem a vida é mensurável nem viver é uma tarefa. O salto do cabrito ou o nascer do Sol não são tarefas. Como há-de sê-lo a vida humana - força surda a crescer na dor da perfeição? E o que é perfeito não desempenha tarefas. O que é perfeito labora em estado de repouso. É absurdo pretender que a função do mar seja exibir armadas e golfinhos. Evidentemente que o faz - mas preservando toda a sua liberdade. Que outra tarefa a do homem senão viver? Faz máquinas? Escreve livros? Faça o que fizer, poderia muito bem fazer outra coisa. Não é isso que importa. Importa é saber-se livre como qualquer elemento da criação."
Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer
Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer
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domingo, 23 de janeiro de 2005
Te Deum
O canal de música "Mezzo" passou hoje, uma vez mais, o Te Deum de Arvo Pärt. A direcção musical coube a Tönu Kaljuste. Em 1980, Arvo Pärt abandona a Estónia e torna-se cidadão austríaco, vivendo actualmente em Berlim. A pureza do seu estilo musical e a reintrodução da polifonia antiga fizeram dele um dos músicos mais influentes da música contemporânea. Esta obra será exibida novamente nos dias 25 e 31 de Janeiro. A não perder...
Susan Hiller
Susan Hiller, Witness (2000). Durante a exposição da obra de Susan Hiller em Serralves, foi editado o livro Susan Hiller. Recall: Revocar. Selected Works 1969-2004; Obras Escolhidas 1969-2004, editada por James Lingwood. Para lá do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, estão associados a este projecto a britânica Baltic e a suíça Kunsthalle de Basileia. É um livro belíssimo, a não perder, mas é uma pena, neste caso, os livros ainda não terem som nem movimento...
Primeiros Encontros
"Celebramos cada momento
dos nossos encontros como epifanias,
apenas nós os dois em todo o mundo.
Audaciosa e mais leve do que a asa de um pássaro,
pela escada abaixo, corrias com uma vertigem
através do lilás húmido até ao teu reino
escondido atrás do espelho.
Quando a noite chegava, a graça obsequiava-me,
as portas do santuários eram abertas.
Brilhando na noite, a tua nudez inclinava-se suavemente;
acordando, dizia:
"Bendita sejas!"
Era ousada a minha bênção: tu dormias.
E o lilás inclinava-se para ti através da mesa
para cobrir as tuas pálpebras com o azul universal;
as tuas pálpebras pintadas de azul
estavam calmas e a tua mão era quente.
E no cristal vi o pulsar dos rios,
montes fumegando e mares bruxuleantes;
segurando na tua mão aquela esfera cristal,
adormecias no teu trono.
E - Deus seja louvado! - tu eras minha.
Acordando, tu transformavas
o vocabulário corrente dos humanos
até a sua linguagem ser plena e a palavra "tu"
revelar novos significados: significava rainha.
Tudo no mundo era diferente,
mesmo as coisas mais simples - o jarro, a bacia -
enquanto a água sólida, estratificada, fluía entre nós,
como uma sentinela.
Fomos levados sabe-se lá para onde.
Diante de nós foi aberta, como numa miragem,
cidades de encanto construídas,
a hortelã espalhava-se aos nossos pés,
pássaros viajam connosco,
peixes saudavam-nos do rio,
os céus aos nossos olhos se rasgavam...
Enquanto, atrás de nós, todo o tempo se tornava destino,
como um louco brandindo uma lâmina em riste."
Poema de Arseny Tarkovsky - o pai do realizador russo. É este o primeiro poema que é lido no Espelho de Tarkovsky.
dos nossos encontros como epifanias,
apenas nós os dois em todo o mundo.
Audaciosa e mais leve do que a asa de um pássaro,
pela escada abaixo, corrias com uma vertigem
através do lilás húmido até ao teu reino
escondido atrás do espelho.
Quando a noite chegava, a graça obsequiava-me,
as portas do santuários eram abertas.
Brilhando na noite, a tua nudez inclinava-se suavemente;
acordando, dizia:
"Bendita sejas!"
Era ousada a minha bênção: tu dormias.
E o lilás inclinava-se para ti através da mesa
para cobrir as tuas pálpebras com o azul universal;
as tuas pálpebras pintadas de azul
estavam calmas e a tua mão era quente.
E no cristal vi o pulsar dos rios,
montes fumegando e mares bruxuleantes;
segurando na tua mão aquela esfera cristal,
adormecias no teu trono.
E - Deus seja louvado! - tu eras minha.
Acordando, tu transformavas
o vocabulário corrente dos humanos
até a sua linguagem ser plena e a palavra "tu"
revelar novos significados: significava rainha.
Tudo no mundo era diferente,
mesmo as coisas mais simples - o jarro, a bacia -
enquanto a água sólida, estratificada, fluía entre nós,
como uma sentinela.
Fomos levados sabe-se lá para onde.
Diante de nós foi aberta, como numa miragem,
cidades de encanto construídas,
a hortelã espalhava-se aos nossos pés,
pássaros viajam connosco,
peixes saudavam-nos do rio,
os céus aos nossos olhos se rasgavam...
Enquanto, atrás de nós, todo o tempo se tornava destino,
como um louco brandindo uma lâmina em riste."
Poema de Arseny Tarkovsky - o pai do realizador russo. É este o primeiro poema que é lido no Espelho de Tarkovsky.
sábado, 22 de janeiro de 2005
Instrumento Óptico
Na minha versão em DVD do "Espelho" de Tarkovsky, encontra-se uma interessante entrevista a Grigory Yavlinsky. Nela, o conhecido e jovem dirigente do partido político Yabloko (literalmente, "maçã") - que ainda recentemente (Outubro de 2004) recebeu em Berlim o Prémio Internacional para a Liberdade - chamava a atenção para um curioso aspecto do filme de Tarkovsky. Apesar de ser um filme autobiográfico, o sentimento generalizado dos espectadores russos era o de que Tarkovsky lhes estava a contar a história que cada um deles tinha vivido. Esta observação fez-me lembrar a conhecida afirmação de Proust segundo a qual “na realidade, cada leitor é, quando lê, o leitor de si próprio. A obra do escritor é ser meramente um tipo de instrumento óptico que ele oferece ao leitor para lhe permitir discernir, o que sem o livro, ele nunca teria visto em si mesmo. O reconhecimento pelo leitor, em si próprio, do que o livro disse é a prova da sua verdade”/"En réalité, chaque lecteur est quand il lit, le propre lecteur de soi-même. L'ouvrage de l'écrivain n'est qu'une espèce d'instrument optique qu'il offre au lecteur afin de lui permettre de discerner ce que sans ce livre, il n'eût peut-être pas vu en soi-même. La reconnaissance en soi-même, par le lecteur, de ce que dit le livre, est la preuve de la vérité de celui-ci" Proust, Le Temps retrouvé
sexta-feira, 21 de janeiro de 2005
Tarkovsky: o cinema e a pintura
O melhor site que eu conheço sobre a obra de Tarkovsky,nostalghia.com, tem uma página dedicada, ainda em construção, sobre as obras de pintura que marcaram a obra deste realizador.
Anna Akhmatova
"Os coros dos anjos celebraram o grande momento,
os céus dissolveram-se em chama.
Ele disse ao Pai: "Porque me abandonaste?"
e à Mãe: "Não chores por mim".
Maria Madalena bateu no peito e chorou,
o discípulo amado transformou-se em pedra,
mas para onde a Mãe ficou em silêncio
ninguém se atrevia sequer a voltar a olhar"
Requiem (excerto)
os céus dissolveram-se em chama.
Ele disse ao Pai: "Porque me abandonaste?"
e à Mãe: "Não chores por mim".
Maria Madalena bateu no peito e chorou,
o discípulo amado transformou-se em pedra,
mas para onde a Mãe ficou em silêncio
ninguém se atrevia sequer a voltar a olhar"
Requiem (excerto)
quinta-feira, 20 de janeiro de 2005
A "Ópera" de Tarkovsky
Imagem da versão de Tarkovsky do Boris Godunov no Covent Garden. Existem dois traços da formação do realizador russo que lhe são essenciais: 1º educação musical que lhe permitirá ver o cinema como "variações sobre o tempo"; 2º "orientalismo" como vocação. Não só estudou línguas orientais, como vivia hipnotizado pela cultura japonesa tradicional. Aliás, esquecemo-nos muitas vezes que os russos, tal como os ingleses, os franceses, os suíços, os portugueses, os italianos e os alemães, cultivaram, como traço de identidade, o estudo da cultura dita oriental. Apesar de Tarkovsky ter plena consciência - como é evidente no Espelho (Zerkalo) - que o destino da Rússia era o de ser "a" fronteira/barreira cristã das tendências expansionistas dos povos asiáticos, expressou no seu cinema dimensões que só são inteligíveis à luz de uma sensibilidade que pouco tem a ver com a cultura europeia tradicional, mesmo aquela que é de matriz russa.
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O Espelho de Tarkovsky
Aconselho vivamente a consulta deste site a todos aqueles que se interessam pelo filme "O Espelho" de Tarkovsky. A narrativa desta obra cinematográfica está construída a partir de um jogo de reflexos entre as principais personagens; por sua vez, a distinção clara entre eventos passados e presentes desvanece-se. Como sempre, o realizador russo revela-se um mestre na apreensão da natureza como "espírito visível".
quarta-feira, 19 de janeiro de 2005
As Artes do Tempo
O blog Extensa Madrugadas, Mãos Vazias lembra-nos a homenagem de Claudio Abbado a Tarkovsky, na qual participaram músicos como Kurtág, Furrer, Rihm e Luigi Nono - que apresenta uma das suas últimas composições musicais (No hay caminos, hay que caminar, Andrej Tarkovsky) antes de falecer em 1990; o título está em espanhol, pois o compositor italiano, numa viagem a Toledo, encontrou escrita esta frase, baseada talvez num poema de Antonio Machado, nas paredes de um mosteiro.
Após o exílio de Tarkovsky em Itália, Abbado trabalhou com o realizador russo, em particular na exibição da ópera de Mussorgsky, Boris Godunov, no Covent Garden em Londres. Uma última nota: Tarkovsky definia o cinema como a arte de esculpir o tempo. Ora, é exactamente com essas palavras que Stravinsky define a arte musical. Também, não tenho a menor dúvida que Proust gostaria desta expressão para retratar o seu romance.
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terça-feira, 18 de janeiro de 2005
A Porta Estreita
"c'est quelquefois au moment où tout nous semble perdu que l'avertissement arrive qui peut nous sauver: on a frappé à toutes les portes qui ne donnent sur rien, et la seule par où on peut entrer et qu'on aurait cherchée en vain pendant cent ans, on y heurte sans le savoir et elle s'ouvre."
"Por vezes, no momento em que tudo nos parece perdido, sobrevém o aviso que nos pode salvar; bateu-se a todas as portas a que nada conduzem e na única por onde se poderia entrar e que se poderia procurar durante cem anos, esbarra-se, por acaso, com ela e ela abre-se."
Proust, Le Temps retrouvé
"Por vezes, no momento em que tudo nos parece perdido, sobrevém o aviso que nos pode salvar; bateu-se a todas as portas a que nada conduzem e na única por onde se poderia entrar e que se poderia procurar durante cem anos, esbarra-se, por acaso, com ela e ela abre-se."
Proust, Le Temps retrouvé
Ideias Claras
Reflectindo sobre o estilo de Bergotte, o narrador de "Em busca do Tempo Perdido" diz-nos esta frase deliciosa: "(...), chacun appelant idées claires celles qui sont au même degré de confusion que les siennes propres"/ "(...) cada um designando por ideias claras aquelas que estão no mesmo grau de confusão do que as suas"
Proust, A l'Ombre des jeunes filles en fleurs
Proust, A l'Ombre des jeunes filles en fleurs
segunda-feira, 17 de janeiro de 2005
Biblioteca Deliciosa
Quem não gostaria de ter um catálogo digital de todos os seus livros, cds, dvds, vídeos, etc? Passe a publicidade, a solução pode estar aqui no Delicious Monster... O problema é que a inclusão de códigos de barras em livros só "recentemente" foi aprovada.
Será que eu estou com problemas de visão?
Carta endereçada pelo CDS-PP à Associação Animal:
Caro(a) Amigo(a),
Sendo o CDS, como é do conhecimento público, um partido democrata-cristão, não poderia deixar de preocupar-se seriamente com os direitos dos animais e também com aquilo que na sua mensagem chama de "objectivo civilizacional de continuar a fazer avançar a protecção dos animais no plano político e legislativo". Essa defesa tem vindo aliás a ser há muito uma das causas nobres daquele que é um dos nossos deputados mais históricos do CDS, o Dr. Narana Coissoró, neste momento candidato a deputado como cabeça de lista por Faro.
Quero, por isso, garantir-lhe que o CDS não deixará jamais que outros assumam como exclusivas uma bandeira e uma causa que é também a nossa e de todos os portugueses de bem. Não poderemos jamais aceitar que se maltratem os animais, sem que esse comportamento não seja sancionado.
Com os meus melhores cumprimentos,
Pedro Mota Soares
Director Nacional da Campanha do CDS-PP
Caro(a) Amigo(a),
Sendo o CDS, como é do conhecimento público, um partido democrata-cristão, não poderia deixar de preocupar-se seriamente com os direitos dos animais e também com aquilo que na sua mensagem chama de "objectivo civilizacional de continuar a fazer avançar a protecção dos animais no plano político e legislativo". Essa defesa tem vindo aliás a ser há muito uma das causas nobres daquele que é um dos nossos deputados mais históricos do CDS, o Dr. Narana Coissoró, neste momento candidato a deputado como cabeça de lista por Faro.
Quero, por isso, garantir-lhe que o CDS não deixará jamais que outros assumam como exclusivas uma bandeira e uma causa que é também a nossa e de todos os portugueses de bem. Não poderemos jamais aceitar que se maltratem os animais, sem que esse comportamento não seja sancionado.
Com os meus melhores cumprimentos,
Pedro Mota Soares
Director Nacional da Campanha do CDS-PP
Quem viveu na "Casa de Portugal", em Paris, certamente se recorda do edifício monumental da "Casa do Cambodja". Nos finais dos anos 80, parecia uma casa assombrada, como se aquele país tivesse deixado de existir. Eu adorava a cultura Khmer de Angkor e só de pensar que a herança de uma das mais belas civilizações tinha sido arrasada e destruída por um louco assassino chamado Pol Pot, deixava-me profundamente triste. Foi, para mim, uma alegria enorme ter visto ontem na Mezzo a exibição do Ballet Real Khmer, cujo modelo de dança se tornou, desde 7 de Novembro de 2003, património mundial da Humanidade (Unesco). A beleza da dança e das coreografias dá novamente corpo ao espírito de uma civilização que soube cruzar as histórias hindus do Ramayana com a meditação budista. Como bónus, ainda tive os comentários de Maurice Béjart a este tipo de dança, cuja origem está gravada nas pedras de Angkor Vat.
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domingo, 16 de janeiro de 2005
O Rosto
"Penso (...) que o acesso ao rosto é imediatamente ético. Quando se vê um nariz, os olhos, uma testa, um queixo e se podem descrever, é que nos voltamos para outrem como para um objecto. A melhor maneira de encontrar outrem é nem sequer atentar na cor dos olhos! (...) A relação com o rosto pode, sem dúvida, ser dominada pela percepção, mas o que é especificamente rosto é o que não se reduz a ele. Em primeiro lugar, há a própria verticalidade do rosto, a sua exposição íntegra, sem defesa. A pela do rosto é a que permanece mais nua (...) mais despida também: há no rosto uma pobreza essencial; a prova disto é que se procura mascarar tal pobreza assumindo atitudes, disfarçando. O rosto está exposto, ameaçado, como se nos convidasse a um acto de violência. Ao mesmo tempo, o rosto é o que nos proíbe de matar." Emmanuel Levinas, Ética e Infinito
sábado, 15 de janeiro de 2005
Deus e o Mundo (3)
"Quem é o terceiro que caminha sempre a teu lado?
Quando conto, só estamos tu e eu
Mas quando olho adiante na estrada branca
Há sempre outro caminhando a teu lado,
Deslizando envolvido num manto castanho, embuçado
Não sei se é homem ou mulher
- Mas quem é esse do outro lado de ti?” (vv.359-365).
"Who is the third who walks always beside you?
When I count, there are only you and I together
But when I look ahead up the white road
There is always another one walking beside you
Gliding wrapt in a brown mantle, hooded
I do not know whether a man or a woman
-But who is that on the other side of you?"
T.S. Eliot, The Waste Land (vv.359-365)
Quando conto, só estamos tu e eu
Mas quando olho adiante na estrada branca
Há sempre outro caminhando a teu lado,
Deslizando envolvido num manto castanho, embuçado
Não sei se é homem ou mulher
- Mas quem é esse do outro lado de ti?” (vv.359-365).
"Who is the third who walks always beside you?
When I count, there are only you and I together
But when I look ahead up the white road
There is always another one walking beside you
Gliding wrapt in a brown mantle, hooded
I do not know whether a man or a woman
-But who is that on the other side of you?"
T.S. Eliot, The Waste Land (vv.359-365)
Morte
"Que raízes se prendem, que ramos crescem
Neste entulho pedregoso? Filho do homem,
Não consegues dizer, nem adivinhar, pois conheces apenas
Um montão de imagens quebradas, onde bate o Sol,
E a árvore morta não dá qualquer abrigo, nem o grilo trégua,
E a pedra seca nenhum som de água. Apenas
Há sombra debaixo desta rocha vermelha
(Anda, vem para a sombra desta rocha vermelha),
E vou mostrar-te uma coisa ao mesmo tempo diferente
Da tua sombra quando ao amanhecer te segue
E da tua sombra quando ao entardecer te enfrenta;
Vou-te mostrar o medo num punhado de poeira." (vv.19-30)
"What are the roots that clutch, what branches grow
Out of this stony rubbish? Son of man,
You cannot say, or guess, for you know only
A heap of broken images, where the sun beats,
And the dead tree gives no shelter, the cricket no relief,
And the dry stone no sound of water. Only
25 There is shadow under this red rock,
(Come in under the shadow of this red rock),
And I will show you something different from either
Your shadow at morning striding behind you
Or you shadow at evening rising to meet you;
I will show you fear in a handful of dust."
Eliot, The Waste Land, vv.29-30
Neste entulho pedregoso? Filho do homem,
Não consegues dizer, nem adivinhar, pois conheces apenas
Um montão de imagens quebradas, onde bate o Sol,
E a árvore morta não dá qualquer abrigo, nem o grilo trégua,
E a pedra seca nenhum som de água. Apenas
Há sombra debaixo desta rocha vermelha
(Anda, vem para a sombra desta rocha vermelha),
E vou mostrar-te uma coisa ao mesmo tempo diferente
Da tua sombra quando ao amanhecer te segue
E da tua sombra quando ao entardecer te enfrenta;
Vou-te mostrar o medo num punhado de poeira." (vv.19-30)
"What are the roots that clutch, what branches grow
Out of this stony rubbish? Son of man,
You cannot say, or guess, for you know only
A heap of broken images, where the sun beats,
And the dead tree gives no shelter, the cricket no relief,
And the dry stone no sound of water. Only
25 There is shadow under this red rock,
(Come in under the shadow of this red rock),
And I will show you something different from either
Your shadow at morning striding behind you
Or you shadow at evening rising to meet you;
I will show you fear in a handful of dust."
Eliot, The Waste Land, vv.29-30
DA
"Then spoke the thunder
DA
Datta: what have we given?
My friend, blood shaking my heart
The awful daring of a moment's surrender
Which an age of prudence can never retract
By this, and this only, we have existed
Which is not to be found in our obituaries
Or in memories draped by the beneficent spider
Or under seals broken by the lean solicitor
In our empty rooms
DA
Dayadhvam: I have heard the key
Turn in the door once and turn once only
We think of the key, each in his person
Thinking of hte key, each confirms a prison
Only at nightfall, aethereal rumours
Revive for a moment a broken Coriolanus
DA
Damyata: The boat responded
Gaily, to the hand expert with sail and oar
The sea was calm, your heart would have responded
Gaily, when invited, beating obedient
To controlling hands"
T.S.Eliot, The Waste Land
DA
Datta: what have we given?
My friend, blood shaking my heart
The awful daring of a moment's surrender
Which an age of prudence can never retract
By this, and this only, we have existed
Which is not to be found in our obituaries
Or in memories draped by the beneficent spider
Or under seals broken by the lean solicitor
In our empty rooms
DA
Dayadhvam: I have heard the key
Turn in the door once and turn once only
We think of the key, each in his person
Thinking of hte key, each confirms a prison
Only at nightfall, aethereal rumours
Revive for a moment a broken Coriolanus
DA
Damyata: The boat responded
Gaily, to the hand expert with sail and oar
The sea was calm, your heart would have responded
Gaily, when invited, beating obedient
To controlling hands"
T.S.Eliot, The Waste Land
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Homens, Demónios e Deuses
O deus Parajapati, deus criador, dirigiu-se aos homens, aos demónios e aos deuses e disse-lhes: Da (transliteração de uma letra do alfabeto devanagari). E os homens ouviram: "Datta - dá". E os demónios ouviram: "Daydhvam - sê compassivo". E os deuses ouviram "Damyata - controla-te". E todos perguntaram a Parajapati se tinham percebido bem. E Prajapati disse que sim.
Esta é uma das mais belas histórias narradas numa das mais antigas Upanishads que T.S. Eliot interpreta quase no final do seu poema, The Waste Land.
“Então falou o trovão
DA
Datta: o que demos nós?
Meu amigo, o sangue que faz mover o meu coração
A tremenda ousadia de um instante de ousadia
Que uma era de prudência não pode revogar
Por isto, e só por isto, temos existido"
DA
Dayadhvam: ouvi a chave
Voltar-se uma vez na porta e só uma vez
Nós pensamos na chave, cada uma na sua prisão
Pensando na chave, cada um confirma a sua prisão"
DA
Damyata: O barco respondeu
Alegremente à mão experimentada na vela e no remo
O mar estava calmo, o teu coração teria respondido
Alegremente ao convite, batendo obediente
Às mãos que dirigem." (vv.399-422)
Esta é uma das mais belas histórias narradas numa das mais antigas Upanishads que T.S. Eliot interpreta quase no final do seu poema, The Waste Land.
“Então falou o trovão
DA
Datta: o que demos nós?
Meu amigo, o sangue que faz mover o meu coração
A tremenda ousadia de um instante de ousadia
Que uma era de prudência não pode revogar
Por isto, e só por isto, temos existido"
DA
Dayadhvam: ouvi a chave
Voltar-se uma vez na porta e só uma vez
Nós pensamos na chave, cada uma na sua prisão
Pensando na chave, cada um confirma a sua prisão"
DA
Damyata: O barco respondeu
Alegremente à mão experimentada na vela e no remo
O mar estava calmo, o teu coração teria respondido
Alegremente ao convite, batendo obediente
Às mãos que dirigem." (vv.399-422)
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Confúcio
CANTO XIII
Kung walked
by the dynastic temple
and into the cedar grove,
and then out by the lower river,
And with him Khieu Tchi
and Tian the low speaking
And "we are unknown," said Kung,
"You will take up charioteering?
"Then you will become known,
"Or perhaps I should take up charioterring, or archery?
"Or the practice of public speaking?"
And Tseu-lou said, "I would put the defences in order,"
And Khieu said, "If I were lord of a province
"I would put it in better order than this is."
And Tchi said, "I would prefer a small mountain temple,
"With order in the observances,
with a suitable performance of the ritual,"
And Tian said, with his hand on the strings of his lute
The low sounds continuing
after his hand left the strings,
And the sound went up like smoke, under the leaves,
And he looked after the sound:
"The old swimming hole,
"And the boys flopping off the planks,
"Or sitting in the underbrush playing mandolins."
And Kung smiled upon all of them equally.
And Thseng-sie desired to know:
"Which had answered correctly?"
And Kung said, "They have all answered correctly,
"That is to say, each in his nature."
And Kung raised his cane against Yuan Jang,
Yuan Jang being his elder,
For Yuan Jang sat by the roadside pretending to
be receiving wisdom.
And Kung said
"You old fool, come out of it,
"Get up and do something useful."
And Kung said
"Respect a child's faculties
"From the moment it inhales the clear air,
"But a man of fifty who knows nothng
Is worthy of no respect."
And "When the prince has gathered about him
"All the savants and artists, his riches will be fully employed."
And Kung said, and wrote on the bo leaves:
If a man have not order within him
He can not spread order about him;
And if a man have not order within him
His family will not act with due order;
And if the prince have not order within him
He can not put order in his dominions.
And Kung gave the words "order"
and "brotherly deference"
And said nothing of the "life after death."
And he said
"Anyone can run to excesses,
"It is easy to shoot past the mark,
"It is hard to stand firm in the middle."
And they said: If a man commit murder
Should his father protect him, and hide him?
And Kung said:
He should hide him.
And Kung gave his daughter to Kong-Tchang
Although Kong-Tchang was in prison.
And he gave his niece to Nan-Young
although Nan-Young was out of office.
And Kung said "Wan ruled with moderation,
"In his day the State was well kept,
"And even I can remember
"A day when the historians left blanks in their writings,
"I mean, for things they didn't know,
"But that time seems to be passing.
A day when the historians left blanks in their writings,
But that time seems to be passing."
And Kung said, "Without character you will
"be unable to play on that instrument
"Or to execute the music fit for the Odes.
"The blossoms of the apricot
"blow from the east to the west,
"And I have tried to keep them from falling."
Ezra Pound
Kung walked
by the dynastic temple
and into the cedar grove,
and then out by the lower river,
And with him Khieu Tchi
and Tian the low speaking
And "we are unknown," said Kung,
"You will take up charioteering?
"Then you will become known,
"Or perhaps I should take up charioterring, or archery?
"Or the practice of public speaking?"
And Tseu-lou said, "I would put the defences in order,"
And Khieu said, "If I were lord of a province
"I would put it in better order than this is."
And Tchi said, "I would prefer a small mountain temple,
"With order in the observances,
with a suitable performance of the ritual,"
And Tian said, with his hand on the strings of his lute
The low sounds continuing
after his hand left the strings,
And the sound went up like smoke, under the leaves,
And he looked after the sound:
"The old swimming hole,
"And the boys flopping off the planks,
"Or sitting in the underbrush playing mandolins."
And Kung smiled upon all of them equally.
And Thseng-sie desired to know:
"Which had answered correctly?"
And Kung said, "They have all answered correctly,
"That is to say, each in his nature."
And Kung raised his cane against Yuan Jang,
Yuan Jang being his elder,
For Yuan Jang sat by the roadside pretending to
be receiving wisdom.
And Kung said
"You old fool, come out of it,
"Get up and do something useful."
And Kung said
"Respect a child's faculties
"From the moment it inhales the clear air,
"But a man of fifty who knows nothng
Is worthy of no respect."
And "When the prince has gathered about him
"All the savants and artists, his riches will be fully employed."
And Kung said, and wrote on the bo leaves:
If a man have not order within him
He can not spread order about him;
And if a man have not order within him
His family will not act with due order;
And if the prince have not order within him
He can not put order in his dominions.
And Kung gave the words "order"
and "brotherly deference"
And said nothing of the "life after death."
And he said
"Anyone can run to excesses,
"It is easy to shoot past the mark,
"It is hard to stand firm in the middle."
And they said: If a man commit murder
Should his father protect him, and hide him?
And Kung said:
He should hide him.
And Kung gave his daughter to Kong-Tchang
Although Kong-Tchang was in prison.
And he gave his niece to Nan-Young
although Nan-Young was out of office.
And Kung said "Wan ruled with moderation,
"In his day the State was well kept,
"And even I can remember
"A day when the historians left blanks in their writings,
"I mean, for things they didn't know,
"But that time seems to be passing.
A day when the historians left blanks in their writings,
But that time seems to be passing."
And Kung said, "Without character you will
"be unable to play on that instrument
"Or to execute the music fit for the Odes.
"The blossoms of the apricot
"blow from the east to the west,
"And I have tried to keep them from falling."
Ezra Pound
Garret
Come, let us pity those who are better off than we are.
Come, my friend, and remember
that the rich have butlers and no friends,
And we have friends and no butlers.
Come, let us pity the married and the unmarried.
Dawn enters with little feet
like a gilded Pavlova
And I am near my desire.
Nor has life in it aught better
Than this hour of clear coolness
the hour of waking together.
Ezra Pound
Come, my friend, and remember
that the rich have butlers and no friends,
And we have friends and no butlers.
Come, let us pity the married and the unmarried.
Dawn enters with little feet
like a gilded Pavlova
And I am near my desire.
Nor has life in it aught better
Than this hour of clear coolness
the hour of waking together.
Ezra Pound
Pacto
I make a pact with you, Walt Whitman—
I have detested you long enough.
I come to you as a grown child
Who has had a pig-headed father;
I am old enough now to make friends.
It was you that broke the new wood,
Now is a time for carving.
We have one sap and one root—
Let there be commerce between us.
Ezra Pound
I have detested you long enough.
I come to you as a grown child
Who has had a pig-headed father;
I am old enough now to make friends.
It was you that broke the new wood,
Now is a time for carving.
We have one sap and one root—
Let there be commerce between us.
Ezra Pound
A obsessão de Van Gogh em relação a sapatos, socos e botas é bem interessante, mas levanta certamente questões delicadas aos intérpretes do ensaio de Heidegger "A Origem da Obra de Arte". Afinal, qual é a pintura de Van Gogh que Heidegger comenta? Se fizerem uma busca na net, verão que todos os "sapatos" recentemente colocados no Expresso do Oriente, são pacificamente seleccionados como o "quadro" estudado por Heidegger... Mas deixemos em paz os caminhos da floresta e lembremo-nos da noção de Joyce de arte como "epifania" (Retrato do Artista como Jovem), bem "ilustrada" nesta série de quadros do pintor holandês.
Imagem da sonda Huygens em Titã - fico deslumbrado com o facto de quase todas as "previsões" científicas, tecnológicas e políticas do livro/filme dos anos 60, "2001 Odisseia no Espaço" se terem realizado. Agora só nos falta viajar ao som das valsas de Strauss e de ter um HAL (de preferência, um não neurótico...)
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