"Sabia perfeitamente que muitos mistérios nunca se resolvem. Apesar disso, os homens continuam a viver, na ignorância e no temor, e embora possam considerar intolerável o seu estado de perplexidade, parecem ainda assim capazes de o tolerar enquanto os seus corações continuarem a bater."
Steven Saylor, O Enigma de Catilina
sábado, 31 de julho de 2004
Ambronay
De 12 de Setembro a 10 de Outubro, realiza-se o XXV Festival de Música Antiga de Ambronay. Vai ser dedicado ao compositor fancês Marc-Antoine Charpentier, que viveu na era de Luís XIV. "Charpentier, un français à Rome" é o título que o festival assumirá este ano. Estarão presentes intérpretes como Jordi Savall ou William Christie. Para lá da música da época de Charpentier (Scarlatti, Corelli e Carissimi), poder-se-ão escutar composições de Arvo Pärt, aquele que é, a meu ver, o melhor músico contemporâneo. Ambronay é uma pequena localidade do sudeste francês (perto de Lyon).
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Solução Final
Há 63 anos iniciava-se o genocídio metódico do povo judaico. No dia 31 de Julho de 1941, Reinhard Heydrich, responsável por toda a segurança policial do Terceiro Reich, é encarregue de executar a "solução global" (Gesamtlösung) ou "solução final" (Endlösung) do problema judaico na Europa. Alguns meses mais tarde, no dia 20 de Janeiro de 1942, na conferência de Wannsee (Berlim), são discutidas as formas práticas de realizar este plano que visa a criação de uma Europa livre de judeus (judenrein). Segundo o protocolo de Wannsee, existiam 3.000 judeus em Portugal. Das comunidades judaicas da Europa, a portuguesa foi uma das poucas que não conheceu o horror da guerra.
"-Créer des liens?
-Bien sûr,dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'a pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde..." Antoine Saint-Exupéry, o autor do Petit Prince, desapareceu no seu último voo de 31 de Julho de 1944. Diz-se que os grandes autores não morrem, que ficam sempre no nosso coração! O que é bem verdade... mas hoje já não temos "le Petit prince", mas sim, - que a Rowling me perdoe - os "half blood princes"
-Bien sûr,dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'a pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde..." Antoine Saint-Exupéry, o autor do Petit Prince, desapareceu no seu último voo de 31 de Julho de 1944. Diz-se que os grandes autores não morrem, que ficam sempre no nosso coração! O que é bem verdade... mas hoje já não temos "le Petit prince", mas sim, - que a Rowling me perdoe - os "half blood princes"
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Rowling
Hoje faz anos JK Rowling, a autora de Harry Potter. Muita especulação sobre o título do sexto livro... "Harry Potter and the Half Blood Prince", talvez!
sexta-feira, 30 de julho de 2004
Gattaca
"Gattaca" é um filme de ficção científica do realizador neozelandês Andrew Nicol. Trata-se de uma obra cinematográfica com algumas pretensões, mas cujo valor se encontra, a meu ver, naquilo que nos faz pensar. Parco em efeitos especiais, o filme visa situar novamente o conceito de "admirável mundo novo". O repto que este filme, já com alguns anos (1997), nos coloca, é, no fundo, saber quais os efeitos sociais que surgirão quando for possivel determinar a "identidade genética" de cada um de nós. Imagine que, a partir de um simples cabelo seu, é possível saber rapidamente as maleitas que sofrerá no futuro. Perspectiva assustadora... O filme analisa igualmente a cisão social que acontecerá quando a eugenia positiva for aceite nas comunidades humanas. A nova "selecção natural" que discriminará entre "válidos" e "in-válidos" será imparável e as consequências sociais serão trágicas. Um filme com Ethan Hawke, Uma Thurman, Jude Law e Gore Vidal (o grande escritor norte-americano) nos principais papéis.
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Sageza
Jean-François Revel em diálogo com o seu filho, o cientista e monge budista, Matthieu Ricard, afirmava que a filosofia, desde a era moderna, tinha perdido a sua dimensão de sageza. Com efeito, é fácil surpreender a transmutação brusca da filosofia enquanto "amor da sabedoria" em "amor do saber". A "arte de viver" transfigurou-se em "epistemologia". Por sua vez, a "ética das virtudes" de sabor aristotélico deu lugar na modernidade a morais fundadas em princípios universais, mas, no essencial, vazios (formalismo kantiano e utilitarismo). A elisão da sageza na cultura ocidental explica o interesse crescente no mundo contemporâneo pela filosofia budista. O budismo surge aos olhos dos ocidentais como uma forma de pensar similar ao estoicismo e ao epicurismo helénicos. Mas, mesmo no Ocidente pós-modernista, existem excepções à concepção da filosofia como epistemologia... uma delas encontra-se na obra do filósofo inglês Alain de Botton. Ninguém fica indiferente ao seu estudo sobre Proust ("Como Proust pode mudar a sua vida"), assim como à obra em que nos oferece as "Consolações da Filosofia" no mundo actual. Enganem-se aqueles que pensam que estamos em face de obras nas quais se gere com eficiência alguns lugares-comuns. O "diletantismo" de Alain de Botton é estudado... Hoje adquiri a tradução portuguesa do livro de Botton, "The Art of Travel", publicado na Dom Quixote. Quando me estou a preparar para as minhas férias, nada melhor do que aprender a forma de as transformar em momentos felizes. Como diria Michel Foucault, mestre de Alain de Botton, importa saber cultivar a arte de "cuidar de si" e dos "outros". Certamente um dos conselhos que vou ler é que se devem evitar improvisos como aqueles que, por falta de sabedoria prática, vou certamente cometer. Afinal, quem é que começa a pensar nas férias no dia em que elas se iniciam?
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Vendavais
No dia 30 de Julho de 1818 nasceu Emily Brontë. Para poder publicar, utilizava um pseudónimo masculino "Ellis Bell". No ano de 1847, lança o seu único romance: "Wuthering Heights", "Monte Uivante", onde narra a paixão trágica de Heathcliff pela sua irmã adoptiva, Cathy. A imagem do romantismo como "sentimentalismo cor-de-rosa" não encontra aqui qualquer justificação. Na charneca dos ventos uivantes estão as raízes do que será, mais tarde, o espírito do gótico contemporâneo.
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Absence of Mind
Ontem ainda cheguei a casa a tempo para ouvir o final do Siegfried. Final bem interessante, na medida em que se pode escutar um longo desenvolvimento musical construído a partir do "Idílio de Siegfried" (o tema musical oferecido a Cosima). Em termos dramáticos, é também o momento em que Siegfried parte a lança de Wotan e atravessa o círculo de fogo para libertar Brünnhilde. Liguei para todos os rádios - via net - e nada... Hoje, percebi o que se passou! Ontem, foi dia livre em Bayreuth. Siegfried entra em cena hoje à tarde (15h de Lisboa).
quinta-feira, 29 de julho de 2004
A Roda da Vida
O realizador coreano Kim Ki-duk surpreendeu tudo e todos. Já com um excelente curriculum cinematográfico, Ki-duk é sobretudo conhecido por filmes nos quais a violência é o tom dominante. Recentemente (2003/04), realizou um filme em que procura reflectir sobre a espiritualidade budista. O filme tem um título curioso: "Primavera, Verão, Outono, Verão... e Primavera". Nele retrata a história da vida de um monge desde a sua infância à maturidade. Grande parte do filme, é realizado num dos locais mais belos do planeta, o lago Jusan na Coreia. Para poder aí realizar, foram necessários meses de negociações com o Ministério do Ambiente... Sentimentos como a alegria, o ódio, a tristeza e o prazer são dissecados à medida em que as estações se sucedem. Em exibição, no Quarteto.
Klingsor e os jardins de Sintra
Quando o compositor Richard Strauss esteve em Sintra, visitou os jardins do Palácio da Pena e ficou fascinado. É-lhe atribuída a seguinte exclamação: "Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia, o Egipto, e nunca, nunca vi nada que se comparasse com a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor — e lá no alto está o castelo do Santo Graal."
Siegfried
Hoje, pelas 15 (hora de Lisboa), continua a tetralogia de Wagner da dupla Jürgen Flimm (que também está em Salzburg) e Ádám Fischer com a apresentação do Siegfried. O papel complicadíssimo de Siegfried (são muitas horas a cantar, quase sem pausas) vai ser repartido por dois cantores: Christian Franz (jovem Siegfried) e Wolfgang Schmidt. Hoje não me vai ser possível escutar esta interpretação da obra de Wagner. Mas fica aqui um facto curioso... o mito de Siegfried nasceu (ou pelo menos assumiu a forma conhecida) em terras de França. Será que os alemães que estavam na "linha Siegfried", na segunda guerra mundial, sabiam disso? O mito de Siegfried está associado aos burgúndios, povo germânico (não confundir com alemão), que vindo da Escandinávia se instalou no século V na Gália. O seu reino alargou-se e chegou a compreender grande parte da actual Suíça. Os burgúndios foram vencidos por um outro povo germânico, os francos ("França"), na era da dinastia dos Merovíngios. O nome "Burgúndia" ainda ecoa na zona da Borgonha.
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quarta-feira, 28 de julho de 2004
Etty Hillesum
"I shall try to help You, God, to stop my strength ebbing away, though I cannot vouch for it in advance. But one thing is becoming increasingly clear to me: that You cannot help us, that we must help You to help ourselves. And that is all we can manage these days and also all that really matters; that we safeguard that little piece of you, God, in ourselves. And perhaps in others as well. [Julho 12, 1942]" (J. Gaarlandt (ed.), An Interrupted Life. Diaries of Etty Hillesum, 1941-1943, Nova Iorque, Pantheon Books,1983, p.151).
A Renúncia ao Amor
Hoje, dia da Valquíria, recordo um dos principais enigmas da obra de Wagner, o Anel. Em três momentos bem diferentes, ouve-se o tema musical da "renúncia ao amor": quando Alberich decide apoderar-se do Ouro do Reno para forjar o anel; no momento em que Siegmund extrai a espada Nothung da árvore da casa de Hunding e, finalmente, quando Wotan adormece Brünnhilde com um beijo e a coloca num círculo de fogo. Se o primeiro evento não coloca problemas - afinal, Alberich está a renunciar ao amor, mas não ao prazer -, o segundo e o terceiro são difíceis de interpretar. Na verdade, o principal enigma refere-se ao segundo episódio relatado, na medida em que Siegmund está, nesse momento, a declarar a sua paixão amorosa a Sieglinde, sua irmã. Lévi-Strauss sugere uma hipótese de exegese, mas não muito convincente: o ouro, a espada e Brünnhilde são o mesmo, três manifestações de Wotan.
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Festival de Salzburg
Enquanto escuto o apelo de Wotan a Loge para criar um círculo de fogo em volta de Brünnhilde, - mas não na interpretação de Beyreuth!!!!... a "Radio Espana" ficou sem ligação e substituiu por uma outra versão (desconfio que esta última é bem melhor do que aquela que foi representada) - relembro que a música não começa nem termina em Wagner. De 24 de Julho a 31 de Agosto, realiza-se o Festival de Verão de Salzburgo. Aí poderá apreciar não só a ópera ("Così Fan Tutte" e o "Rapto do Serralho" de Mozart, o "Cavaleiro Rosa" - Der Rosenkavalier - de Richard Strauss e Hofmannsthal, a "Cidade Morta" de Korngold e o "Rei Artur" de Henry Purcell), mas, também, concertos e teatro. Estará presente a Filarmónica de Berlim com o meu querido Simon Rattle, apresentando obras de Débussy e de Messiaen. Sobre o "Rosenkavalier" não resisto contar o que ouvi no Hospital de Santa Maria. Ao que parece, Richard Strauss teve a intuição da música quando esteve numa casa de Sintra, hoje habitada por um célebre poeta e lógico português. O que se ouve nos hospitais...
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A Beleza e o Sublime
O filme do realizador chinês Zhang Yimou, Ying Xiong (Herói, 2002), levanta, a meu ver, questões cruciais no domínio da actual crítica estética. Por um lado, ninguém nega a beleza das imagens, a um ponto tal que vários críticos usam constantemente a palavra "sufocação"... a "beleza que nos sufoca" tornou-se um lugar comum para caracterizar este filme. Por sua vez, não estamos apenas em face de uma mera sucessão de efeitos especiais. Mesmo em termos narrativos, encontramos boas ideias e alguma reflexão filosófica. Se, em termos musicais, Tan Dun repete o mesmo modelo do Tigre e do Dragão, o resultado global é muito positivo. Ele utiliza os sons como se fossem palavras, o que acentua a importância da "palavra" na construção fílmica. Os actores, por seu lado, estão impecáveis...o resultado global deveria ser excepcional! No entanto, a meu ver, estamos em face de um "belo filme" que ficará sempre na nossa imaginação, sem ser, no entanto, um filme sublime. Por que razão?
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Blog sobre Bayreuth
O crítico musical americano Alex Ross tem um Blog onde nos mostra imagens da sua peregrinação ao Festival de Bayreuth de 2004.
O Enigmático Coelho
Um excerto da reportagem do New York Times sobre o Parsifal de Schlingensief: "Even if it did not provide the promised scandal, this "Parsifal" was certainly unlike any seen before at this festival. The knights of the Grail, whose leader, Amfortas, has been mortally wounded and must be saved by the holy fool Parsifal, have abandoned Wagner's mythological Middle Ages in favor of a deconstructed and symbol-strewn landscape that supposedly combined elements of Nepal and Namibia. In practice, the stage was a chaotic jumble of urban ruble, ancient Asian and African religious symbols and high-concept directorial statements such as a "Cemetery of Art" that shows up in the third act, with famous paintings set out as tombstones. Wagner's characters also had a new multicultural look. The knights of the Grail, a disturbingly pure-blooded group in Wagner's original, were transformed into a motley crew of races and creeds more interested in pagan rituals than Christian religious rites, and the seductive maidens of the evil sorcerer Klingsor were bedecked in various combinations of feathers and tribal body paints. It all added up to an overwhelming visual picture, but Mr. Schlingensief did not stop there, layering on still more visuals with an almost constant stream of shifting filmic images projected onto scrims and onto the stage itself. The relationship of the images to the musical-dramatic moment was, shall we say, indirect: seals cavorting on the beach while Gurnemanz lamented the fate of the order of the Grail; a giant decomposing rabbit during the work's sublime conclusion. In fairness to Mr. Schlingensief, this was not as arbitrary as it may sound. The film, according to an explanatory note, was his attempt to embrace viewers with a contemporary visual language speaking most readily to them, in keeping with Wagner's theories of opera as an all-encompassing total work of art. The African and Asian cultural artifacts were attempts to find religious and mythological imagery still resonant in a secular age. But the giant rabbit, well, that's still anyone's guess." Jeremy Eichler, New York Times, 27 de Julho
A Valquíria
O Festival de Bayreuth continua hoje às 15 horas (hora de Lisboa), com a apresentação da "Valquíria". Não existem grandes alterações em relação ao "Ouro do Reno" de Ádám Fischer e de Jürgen Flimm. O barítono americano Alan Titus será "Wotan", enquanto "Fricka" - a mulher de Wotan - será representada pela cantora japonesa Mihoko Fujimura. O tenor americano Robert Dean Smith fará de Siegmund, enquanto a contestada Evelyn Herlitzius, a soprano alemã, incarnará a figura central do Ring, Brünnhilde.
terça-feira, 27 de julho de 2004
Não existem factos, apenas interpretações
"Não existem factos, apenas interpretações" (Nietzsche). O Deutsche Welle apresenta uma versão bem diferente daquela que nos foi dada pela crítica americana sobre o Parsifal de Schlingensief. Cito o DW, na edição inglesa, que não esquece o nosso ex-primeiro..."Christoph Schlingensief had prepared for the worst.Prior to Sunday's performance, the enfant terrible among Germany's theater directors had talked about plans to hide after Sunday to escape the wrath of his critics. Schlingensief had expected the opening night to end in scandal after the lead tenor had called the production an abomination in a radio interview and festival director Wolfgang Wagner had asked that the use of a video depicting a decaying rabbit be toned down. But the closest Schlingensief got to a scandal was a round of heavy booing as the director appeared on stage for a curtain call. At the official reception that followed the festival's opening in the northern Bavarian town of Bayreuth, the director and his team were cheered and welcomed with fanfares.Wolfgang Wagner, the grandson of Richard Wagner, talked about a "successful performance.""A very courageous staging"Even Bavaria's conservative political leaders were full of praise. While admitting that he needed some time to get his head around what he'd seen, Bavarian Premier Edmund Stoiber seemed pleased with Schlingensief's work."This is not a scandal, but a very, very courageous staging," who had brought along Jose Barroso, the former Portuguese premier who will take over as European Commission president in November. Schlingensief himself told reporters that he had not hoped for a scandal."We're relieved and very proud," he said. "We fought a lot and it's been worth it. We wanted to show Bayreuth unusual images and we've accomplished that."
Sobre o Parsifal de Schlingensief
Reproduzo uma reportagem do Access de Atlanta à produção do Parsifal de Schlingensief. Seguindo uma sugestão do Lxroma, vou começar a pôr imagens desta controversa interpretação da obra wagneriana. Aliás, já encontram no Expresso do Oriente uma primeira imagem - não muito expressiva, confesso!...fotografia talvez tirada com um telemóvel - dessa produção. E aqui vai a crítica:
"Avant-garde director Christoph Schlingensief's production premiered at the Bayreuth festival Sunday, drawing a mixed reaction, with some of the black-tie audience booing at the conclusion of the performance in the opera house Wagner had built in the 19th century to stage his works.
Chosen to liven up the festival, now in its 93rd year, Schlingensief drew on African myths and images for his Parsifal. His use of on-stage nudity and projected backdrops also raised eyebrows.
The festival's biggest controversy in years reignited Monday with Schlingensief's broadside against tenor Endrik Wottrich, who has called the director's version "an abomination" that strays too far from Wagner's tale of medieval knight-priests and the Holy Grail.
Schlingensief told a news conference that Wottrich had "a purity notion" of Germany that he didn't agree with. He claimed the tenor had objected to the inclusion of blacks in the staging of the opera and had used the German word "Neger," which is translated as Negroes and has a similar derrogatory meaning in German.
There was no immediate comment from Wottrich, who was not at the news conference.
Festival director Wolfgang Wagner, an 84-year-old grandson of the composer, defended Wottrich's previous criticism that the director's production was an unworthy interpretation of Wagner's original. "Artistic freedom also implies a freedom to speak," he said Monday." O ambiente deve estar "quente" em Bayreuth, a começar pela doença de Schlingensief e pela recusa de Lars von Trier em encenar o Anel. Aqui fica a minha sugestão: Nike Wagner, bisneta de Wagner, filha de Wieland, para a direcção artística de Bayreuth. O notável estudo que fez sobre os "Wagners" justifica plenamente a minha escolha. O pior é que ninguém me dá ouvidos...:-)
"Avant-garde director Christoph Schlingensief's production premiered at the Bayreuth festival Sunday, drawing a mixed reaction, with some of the black-tie audience booing at the conclusion of the performance in the opera house Wagner had built in the 19th century to stage his works.
Chosen to liven up the festival, now in its 93rd year, Schlingensief drew on African myths and images for his Parsifal. His use of on-stage nudity and projected backdrops also raised eyebrows.
The festival's biggest controversy in years reignited Monday with Schlingensief's broadside against tenor Endrik Wottrich, who has called the director's version "an abomination" that strays too far from Wagner's tale of medieval knight-priests and the Holy Grail.
Schlingensief told a news conference that Wottrich had "a purity notion" of Germany that he didn't agree with. He claimed the tenor had objected to the inclusion of blacks in the staging of the opera and had used the German word "Neger," which is translated as Negroes and has a similar derrogatory meaning in German.
There was no immediate comment from Wottrich, who was not at the news conference.
Festival director Wolfgang Wagner, an 84-year-old grandson of the composer, defended Wottrich's previous criticism that the director's production was an unworthy interpretation of Wagner's original. "Artistic freedom also implies a freedom to speak," he said Monday." O ambiente deve estar "quente" em Bayreuth, a começar pela doença de Schlingensief e pela recusa de Lars von Trier em encenar o Anel. Aqui fica a minha sugestão: Nike Wagner, bisneta de Wagner, filha de Wieland, para a direcção artística de Bayreuth. O notável estudo que fez sobre os "Wagners" justifica plenamente a minha escolha. O pior é que ninguém me dá ouvidos...:-)
O Ouro do Reno
Após o êxito de ontem do Tannhäuser e, em particular, do novo tenor Stephen Gould, hoje o Festival de Bayreuth apresenta o Ouro do Reno às 17h (hora de Lisboa). "Das Rheingold" é o primeiro dos quatro dramas musicais do "Anel do Nibelungo" e é uma das óperas mais pequenas de Wagner: 2 horas e 30 minutos (claro que tudo depende do "tempo" do maestro...). A concepção artística do espectáculo caberá a Jürgen Flimm e a condução da orquestra será realizada por Adam Fischer.
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segunda-feira, 26 de julho de 2004
Blinkando
Enquanto escuto o final do Tannhäuser através da Rádio Húngara Bartok, dei um salto ao Abrupto e aí deparei-me com Elizabeth Smart, a grande escritora canadiana. Como o mundo não é só Wagner, eis um poema dela:
"In my shattered garden
I lie and cry.
Why?
I could scrub floors
And get a sense
Of something done
A neat
Achievement
But
I get up
And stumble on
And get slapped back.
I count my blessings
Many, many.
It is no use.
Back and forth
I pace
Carrying a deep despair
Like a fretful child.
There there, despair,
There there."
"In my shattered garden
I lie and cry.
Why?
I could scrub floors
And get a sense
Of something done
A neat
Achievement
But
I get up
And stumble on
And get slapped back.
I count my blessings
Many, many.
It is no use.
Back and forth
I pace
Carrying a deep despair
Like a fretful child.
There there, despair,
There there."
Baudelaire e o Tannhäuser
"Je me souviens que, dès les premières mesures, je subis une de ces impressions heureuses que presque tous les hommes imaginatifs ont connues, par le rêve, dans le sommeil. Je me sentis délivré des liens de la pesanteur, et je retrouvai par le souvenir l'extraordinaire volupté qui circule dans les lieux hauts (notons en passant que je ne connaissais pas le programme cité tout à l'heure). Ensuite je me peignis involontairement l'état délicieux d'un homme en proie à une grande rêverie dans une solitude absolue, mais une solitude avec un immense horizon et une large lumière diffuse ; l'immensité sans autre décor qu'elle-même. Bientôt j'éprouvai la sensation d'une clarté plus vive, d'une intensité de lumière croissant avec une telle rapidité, que les nuances fournies par le dictionnaire ne suffiraient pas à exprimer ce surcroît toujours renaissant d'ardeur et de blancheur. Alors je conçus pleinement l'idée d'une âme se mouvant dans un milieu lumineux, d'une extase faite de volupté et de connaissance, et planant au-dessus et bien loin du monde naturel."
Wagner em Paris
É lendário o tumulto que rodeou a estreia da obra de Stravinsky,"A Sagração da Primavera" em Paris, no ano de 1913. Menos conhecida, mas não menos significativa, foi a recepção parisiense ao "Tannhäuser" de Wagner em 1861. Paris era nessa época a capital da ópera, a um ponto tal que, esta última, era considerada um assunto de Estado. Qualquer compositor que quisesse triunfar no mundo musical teria que se apresentar em Paris. Após múltiplas tentativas, Wagner consegue exibir finalmente o "Tannhäuser" ao público parisiense. Segundo reza a lenda, imperava sobre a ópera de Paris um clube conhecido como o Jockey Club, cujos membros pertenciam à aristocracia e à burguesia rica da capital francesa. Ao que parece, costumavam jantar até tarde e só apareciam no segundo Acto. E porquê no segundo acto? Pela simples razão que na ópera parisiense era regra de ouro haver uma cena de ballet no segundo acto que era apreciado, não tanto como dança, mas, sim, como uma passagem de modelos. Wagner querendo inovar - e não conhecendo o exótico costume... - colocou a cena de dança no primeiro acto. Pode-se imaginar a estupefacção e o desagrado dos membros do Jockey Club quando se aperceberam que tinham perdido o "ballet"... Para piorar as coisas, Wagner não só era alemão como tinha sido recomendado pela princesa Metternich. Os assobios, os apupos, as manifestações anti-austríacas e alemãs irromperam por todo o lado; como alguns wagnerianos procuraram defender o seu mestre, houve cenas de pugilato que obrigaram os cantores a sentarem-se no palco durante mais de 15 minutos...Hoje, o "Tannhäuser" é uma das obras mais populares da música ocidental em França e em todo o mundo.
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Prima Donna
Uma lembrança para os leitores do "Expresso do Oriente" que não gostam de ópera. Uma boa lembrança, visto que o livro "As Jóias de Castafiore" é, sem dúvida, o melhor do Tintin. A "ária das jóias" é cantada no terceiro acto do "Fausto", a ópera do compositor francês Gounod. Margarida encanta-se com as jóias de Mefistófeles e canta... quem não gostava nada de ópera era Hergé, certamente para grande irritação do seu amigo E.P. Jacobs, o autor do genial "Blake & Mortimer".
Fado Lusitano
Foi muito triste, ontem, perceber que a Antena 2 não se associou à abertura do Festival de Bayreuth! Espero que os próximos dias me desmintam, mas da lista gigantesca de rádios referidas pela Rádio Baviera não ouvi nenhuma indicação sobre a rádio portuguesa. Da Espanha ao Montenegro, da Grécia ao Canadá, todas as rádios se quiseram associar a este evento histórico. E até esteve em Bayreuth o nosso ex-primeiro, Herr Barroso...
Tannhäuser
O Festival de Bayreuth continua hoje com a apresentação do Tannhäuser (15h, hora de Lisboa). A produção artística estará a cargo de Philippe Arlaud e o maestro será Christiann Thielemann. No papel de Tannhäuser estará o tenor Stephen Gould, enquanto as interpretações de Vénus e de Elisabeth serão protagonizadas por Judith Nemeth e Ricarda Merbeth. Contrariamente ao Parsifal de ontem, não se trata de uma estreia. Espero poder ouvir o Tannhäuser novamente pela internet.
domingo, 25 de julho de 2004
Nietzsche e o Parsifal
Nietzsche é geralmente apresentado como um crítico do Parsifal. E, no entanto, são dele as palavras mais belas para descrever a última obra de Wagner. Aqui vão elas, infelizmente em inglês, pois agora não tenho cabeça para as traduzir: "When I see you again, I shall tell you exactly what I then understood. Putting aside all irrelevant questions (to what end such music can or should serve?), and speaking from a purely aesthetic point of view, has Wagner ever written anything better? The supreme psychological perception and precision as regards what can be said, expressed, communicated here, the extreme of concision and directness of form, every nuance of feeling conveyed epigrammatically; a clarity of musical description that reminds us of a shield of consummate workmanship; and finally an extraordinary sublimity of feeling, something experienced in the very depths of music, that does Wagner the highest honour; a synthesis of conditions which to many people - even "higher minds" - will seem incompatible, of strict coherence, of "loftiness" in the most startling sense of the word, of a cognisance and a penetration of vision that cuts through the soul as with a knife, of sympathy with what is seen and shown forth. We get something comparable to it in Dante, but nowhere else. Has any painter ever depicted so sorrowful a look of love as Wagner does in the final accents of his Prelude?" (Carta a Peter Gast, Janeiro de 1887)
Loucura e Vaias
Terminou às 20:45 (hora de Lisboa) a transmissão pela Rádio Baviera da abertura do Festival de Bayreuth, com a apresentação do Parsifal. Que eu saiba, foi a primeira vez que foi possível ouvir "Bayreuth" em directo para a rádio e para a net. Houve apenas um problema: uma interrupção lamentável de 10 minutos. No final da ópera, dei por mim a cantar em fente de um monitor... acho que não pode haver maior sinal de loucura!!! Musicalmente, gostei imenso desta interpretação de Pierre Boulez e fiquei fascinado com a clareza e a transparência do som. No final, ouviu-se uma vaia monstruosa, seguida de aplausos frenéticos. Pelo que percebi, o alvo da vaia foi a encenação de Christoph Schlingensief... sobre ela, como é lógico, não posso falar. Wagner, como sempre, nosso contemporâneo! Do memo que o João - hardblog -, desejo não me falta de ir ao Festival. Preços há para todos os gostos: desde 11 euros na galeria até 190 na primeira plateia. Agora, encontrar bilhetes...
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Wagner
Kundry no Intervalo
Agora que estou no longo intervalo antes do último acto de Parsifal, já me é "visível" a excelente execução musical de Boulez, a beleza da interpretação da Mezzo-soprano americana, Michelle DeYoung - que interpreta a personagem Kundry - e a crescente excitação do público em face desta nova versão do drama musical de Wagner. Mas, neste intervalo, façamos a síntese da intepretação de Lévi-Strauss do Parsifal. Estamos em face de dois mundos, simbolizados por dois castelos, o de Graal e o de Klingsor. O primeiro é uma terra desolada, em que o seu rei está doente, em que os visitantes permanecem em silêncio; o outro é um mundo totalmente oposto, mundo em flor, mundo em que Kundry procura seduzir Parsifal com o amor de mãe que se transmuta em amante. Nenhuma comunicação no mundo do Graal, bem simbolizado pelo silêncio em face da ferida de Amfortas, a que se opõe o jardim de Klingsor, a comunicação sem freio, excessiva. Parsifal fará a mediação, porque visitou os dois mundo e, apesar de ter saído ou ser excluído dos dois, consegue reentrar neles. Este «saber do outro» é a essência da compaixão: "durch Mitleid wissend" - "Saber através da compaixão", ou na definição brilhante de Lévi-Strauss, "conhecer e não conhecer", ou seja, saber o que se ignora.
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Parsifal
Relembrando uma das apresentações mais controversas e interessantes do Parsifal, a de Syberberg. Já a pode adquirir em DVD, assim como ler em português um dos melhores estudos sobre a obra: o ensaio de Lévi-Strauss, "De Chrétien de Troyes a Richard Wagner" (Olhar Distanciado).
Festival de Bayreuth
Hoje, pelas 15h (hora de Lisboa), incia-se o Festival de Bayreuth (2004), com a apresentação da obra de Wagner, Parsifal. A responsabilidade pela nova concepção artística da obra será de Christoph Schlingensief, enquanto o maestro Pierre Boulez dirigirá a orquestra. Se quiser assistir ao "vivo", poderá sintonizar várias estações de rádio no seguinte site, sem esquecer naturalmente o blog sobre o evento. Pode obter aqui toda a informação que desejar sobre o Parsifal numa das páginas web musicais mais completas que eu conheço. Tem ainda a possibilidade de ler o libreto do Parsifal em português no site e de "ir" ao Festival de Bayreuth através da sua página oficial. Se quiser saber mais sobre Wagner, pode clicar aqui.
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sábado, 24 de julho de 2004
Sweet and Lowdown
"Hattie", a personagem do filme de Woody Allen ("Sweet and Lowdown" - "Através da Noite") que parece a incarnação feminina de Harpo Marx e de Charlot.
All that Jazz
Quando, ontem, vi o filme de Woody Allen, "Sweet and Lowdown" (com o título em português, "Através da Noite"), de 1999, recordei-me constantemente da questão central colocada por George Steiner na sua autobiografia (Errata): "Como compreender psicologicamente, socialmente, a capacidade dos seres humanos para interpretarem e serem sensíveis, por exemplo, a Bach ou Schubert, à noite, e para torturarem outros seres humanos no dia seguinte?” "Sweet and Slowdown" é um filme sobre jazz, sob a forma de um documentário sobre uma figura imaginária da música americana, "Emmet Ray". Este guitarrista, "o segundo melhor guitarrista de jazz no mundo" é, como pessoa, totalmente execrável. Dotado de um narcisismo inigualável, Emmet, sob a capa de "artista", trata tudo e todos como se fossem apenas extensões de si mesmo. Apenas parece temer Django Reinhardt, o guitarrista cigano que, nos anos 30 e 40, pontificou no Hot Club de Paris. Os passatempos preferidos de "Emmet"são matar ratazanas em lixeiras e ver passar comboios. Não só é um crápula, como a sua vida interior parece igual ou inferior a zero. E, no entanto, quando tem uma guitarra nas mãos, a sua música é de uma beleza sublime. Onde vai buscar a força e o encanto da sua inspiração musical? É verdade que, como todos os grandes narcisistas, Emmet é cruel, não tanto por maldade intencional, mas por causa da sua "eterna inocência". A seu lado, estará uma das criações mais encantadoras do cinema contemporâneo, Hattie (interpretada por Samantha Morton, a profetisa "Agatha" do "Relatório Minoritário"). Hattie parece retirada directamente de um dos desses filmes cheios de ternura dos anos 30. Ela é a companheira de Emmet e, como no filmes antigos, é muda. Este não é um dos melhores filmes de Woody Allen, mas é, sem dúvida, um dos seus trabalhos mais interessantes. A sua força não está na narrativa, antes em pequenos "pormenores" que "rodeiam" a acção cinematográfica: em primeiro lugar, a intensidade e beleza das imagens naturais - Woody Allen é um realizador urbano e, no entanto, a beleza natural é filmada como ninguém; em segundo lugar, a criatividade e o encanto da música que percorre o filme de ponta a ponta; finalmente, as interpretações fabulosas de Sean Penn e Samantha Morton. Perguntaram a Woody Allen, por que razão não interpretou o papel de "Emmet Ray"? A resposta é directa e magnífica: precisava, para este papel, de um actor excepcional. E encontrou-o!
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Hiram Bingham
Hiram Bingham III (1875-1956), professor de História e Política nas Universidades de Harvard e de Princeton, descobre a 24 de Julho de 1911 as ruínas de Machu Picchu, "a cidade perdida dos Incas", símbolo por excelência da civilização andina e uma das obras-primas da humanidade.
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Panem et circenses - inquietações
Citações de um texto de Artur de Aguirre y Mendes, Presidente da ANIMAL:
"Pedro Santana Lopes é inquestionavelmente o pior e mais perigoso inimigo dos animais em Portugal. Se esta afirmação parece muito forte e porventura irrazoável, veja-se:
1. Enquanto Secretário de Estado da Cultura do Governo do Prof. Cavaco Silva, Pedro Santana Lopes tentou permitir e introduzir (contra o que a lei estabelecia) a Sorte de Varas nas corridas de touros em Portugal. O que é a Sorte de Varas? Semelhante à Tenta de Touros (que ultimamente se tem tentado introduzir em Portugal), a Sorte de Varas é das mais cruéis práticas tauromáquicas, pertencendo à pior tradição da tauromaquia espanhola, sendo de uma violência tal, que, justamente por esta razão, passou a ser uma prática proibida em Portugal nos anos 20. Consiste em picar o animal, sangrando-o, com uma extensa vara com um ferro comprido, que é empunhada pelo picador, que, de cima de um cavalo, espeta e pressiona a vara contra o dorso do touro durante longos minutos, causando-lhe perdas de sangue a jorros, quebra de força e elevadas febres. É um acto extremamente doloroso para os touros e muito perigoso para os cavalos, que, expostos, ficam muitas vezes gravemente feridos, chegando por vezes a morrer.
2. Em Portugal, a morte dos touros na arena foi proibida em 1928 por ser então considerado um espectáculo "bárbaro e impróprio de nações civilizadas", segundo o texto de introdução à lei de 1928. Hoje em dia, se exceptuarmos Barrancos (...) a morte dos touros não costuma acontecer. No entanto, o “herói” Pedrito de Portugal, famoso matador de touros que quase não encontra trabalho em Espanha (é uma realidade!), decidiu um dia, sob extrema excitação, pegar numa espada e matar um touro em Portugal! A pressão foi grande, pois, além deste ser um acto ilegal, a maioria dos Portugueses não gosta de touradas e menos ainda de touradas de morte, e, provavelmente, também não gosta de “heróis” que desprezam a lei e matam um animal inocente numa alegada excitação momentânea. O cadáver seguiu o seu percurso e o “herói” Pedrito foi a tribunal. No rol de testemunhas com o objectivo de "safar" o amigo Pedrito, quem estaria em primeiro lugar?... É verdade: Pedro Santana Lopes... Que, aliás, voltou a estar também na primeira fila do público na corrida de touros onde o mesmo Pedrito ameaçou matar novamente o touro, depois de ter sido condenado pelo Tribunal da Moita a pagar 20.000 contos de multa. Nessa situação, como havia muito dinheiro em causa, Pedrito de Portugal decidiu não matar o touro, embora tivesse antes dito que o faria. E isto aconteceu com o declarado apoio e solidariedade de Pedro Santana Lopes.
3. Qual é a actividade de lazer em Portugal na qual se matam mais de 100.000 animais por ano? É o Tiro aos Pombos! Nos últimos oito anos, a ANIMAL moveu dezenas de processos judiciais contra esta prática, tendo conseguido muitas vitórias que impediram a realização de várias provas de tiro aos pombos por todo o país. E quem temos encontrado sempre (!) a liderar a persistente defesa do tiro aos pombos? Quem temos encontrado sempre nos tribunais, a insultar-nos e a avançar com diversos processos contra o nosso advogado (que é, aliás, brilhante)? Henrique Chaves, advogado da Federação Portuguesa de Tiro com Armas de Caça e de todos os Clubes de Tiro do país, principal defensor jurídico e político do tiro aos pombos, primeiro subscritor da legalização das touradas de morte em Barrancos, que, não por acaso, é o braço direito de Pedro Santana Lopes, tendo sido até aqui um destacado deputado do PSD da ala “Santanista” no Parlamento, tendo agora sido recompensado pelo amigo Santana Lopes, sendo nomeado Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro do actual governo.
Este advogado, num processo onde foi recentemente derrotado, disse bem alto à juíza do processo, em plena sessão de julgamento, que “ainda ia ser Ministro da Justiça e que aí tratava de resolver isto tudo!”. "Isto tudo" significa manter a prática de tiro aos pombos, legalizando-a, por forma a permitir a morte de mais de 100.000 pombos indefesos, que, simbolicamente, e segundo o que sei, são os animais que tradicionalmente representam a paz... Hoje podemos anunciar que este senhor tem um lugar de destaque e forte influência no governo do qual é ministro. Para além do visceral ódio que ele tem assumido directamente contra os defensores dos animais, estamos à espera – e sempre preparados – para enfrentar os prometidos ataques directos a nós, membros da Direcção da ANIMAL. (...)
4. De resto, quem quer (e já está a tratar disso) instalar um hipódromo para as nada tradicionais corridas a cavalo com apostas no principal pulmão de Lisboa, Monsanto? Se antes planeava fazê-lo utilizando para isso os poderes que tinha enquanto Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Pedro Santana Lopes, agora, como Primeiro-Ministro, estará em melhores condições de realizar este seu escandaloso projecto, quando deveria deixar tanto os cavalos como as árvores de Monsanto em paz...
Serão necessários mais exemplos? Será de crer que não vão tentar legalizar o tiro aos pombos, sendo que alguns dos seus principais promotores são ministros, com o directo, activo e alto patrocínio do Primeiro Ministro? Eu acho que a consciência de Pedro Santana Lopes deve ser um autêntico pesadelo. Só que não a ouvirá, certamente... Tal como quero sempre acreditar que o mesmo poderá ser dito das pessoas que prejudicaram brutalmente a humanidade. Definitivamente, Pedro Santana Lopes representa muito do que a mim mais me repugna, e que gostaria que os meus filhos não conhecessem sequer."
22/07/04
"Pedro Santana Lopes é inquestionavelmente o pior e mais perigoso inimigo dos animais em Portugal. Se esta afirmação parece muito forte e porventura irrazoável, veja-se:
1. Enquanto Secretário de Estado da Cultura do Governo do Prof. Cavaco Silva, Pedro Santana Lopes tentou permitir e introduzir (contra o que a lei estabelecia) a Sorte de Varas nas corridas de touros em Portugal. O que é a Sorte de Varas? Semelhante à Tenta de Touros (que ultimamente se tem tentado introduzir em Portugal), a Sorte de Varas é das mais cruéis práticas tauromáquicas, pertencendo à pior tradição da tauromaquia espanhola, sendo de uma violência tal, que, justamente por esta razão, passou a ser uma prática proibida em Portugal nos anos 20. Consiste em picar o animal, sangrando-o, com uma extensa vara com um ferro comprido, que é empunhada pelo picador, que, de cima de um cavalo, espeta e pressiona a vara contra o dorso do touro durante longos minutos, causando-lhe perdas de sangue a jorros, quebra de força e elevadas febres. É um acto extremamente doloroso para os touros e muito perigoso para os cavalos, que, expostos, ficam muitas vezes gravemente feridos, chegando por vezes a morrer.
2. Em Portugal, a morte dos touros na arena foi proibida em 1928 por ser então considerado um espectáculo "bárbaro e impróprio de nações civilizadas", segundo o texto de introdução à lei de 1928. Hoje em dia, se exceptuarmos Barrancos (...) a morte dos touros não costuma acontecer. No entanto, o “herói” Pedrito de Portugal, famoso matador de touros que quase não encontra trabalho em Espanha (é uma realidade!), decidiu um dia, sob extrema excitação, pegar numa espada e matar um touro em Portugal! A pressão foi grande, pois, além deste ser um acto ilegal, a maioria dos Portugueses não gosta de touradas e menos ainda de touradas de morte, e, provavelmente, também não gosta de “heróis” que desprezam a lei e matam um animal inocente numa alegada excitação momentânea. O cadáver seguiu o seu percurso e o “herói” Pedrito foi a tribunal. No rol de testemunhas com o objectivo de "safar" o amigo Pedrito, quem estaria em primeiro lugar?... É verdade: Pedro Santana Lopes... Que, aliás, voltou a estar também na primeira fila do público na corrida de touros onde o mesmo Pedrito ameaçou matar novamente o touro, depois de ter sido condenado pelo Tribunal da Moita a pagar 20.000 contos de multa. Nessa situação, como havia muito dinheiro em causa, Pedrito de Portugal decidiu não matar o touro, embora tivesse antes dito que o faria. E isto aconteceu com o declarado apoio e solidariedade de Pedro Santana Lopes.
3. Qual é a actividade de lazer em Portugal na qual se matam mais de 100.000 animais por ano? É o Tiro aos Pombos! Nos últimos oito anos, a ANIMAL moveu dezenas de processos judiciais contra esta prática, tendo conseguido muitas vitórias que impediram a realização de várias provas de tiro aos pombos por todo o país. E quem temos encontrado sempre (!) a liderar a persistente defesa do tiro aos pombos? Quem temos encontrado sempre nos tribunais, a insultar-nos e a avançar com diversos processos contra o nosso advogado (que é, aliás, brilhante)? Henrique Chaves, advogado da Federação Portuguesa de Tiro com Armas de Caça e de todos os Clubes de Tiro do país, principal defensor jurídico e político do tiro aos pombos, primeiro subscritor da legalização das touradas de morte em Barrancos, que, não por acaso, é o braço direito de Pedro Santana Lopes, tendo sido até aqui um destacado deputado do PSD da ala “Santanista” no Parlamento, tendo agora sido recompensado pelo amigo Santana Lopes, sendo nomeado Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro do actual governo.
Este advogado, num processo onde foi recentemente derrotado, disse bem alto à juíza do processo, em plena sessão de julgamento, que “ainda ia ser Ministro da Justiça e que aí tratava de resolver isto tudo!”. "Isto tudo" significa manter a prática de tiro aos pombos, legalizando-a, por forma a permitir a morte de mais de 100.000 pombos indefesos, que, simbolicamente, e segundo o que sei, são os animais que tradicionalmente representam a paz... Hoje podemos anunciar que este senhor tem um lugar de destaque e forte influência no governo do qual é ministro. Para além do visceral ódio que ele tem assumido directamente contra os defensores dos animais, estamos à espera – e sempre preparados – para enfrentar os prometidos ataques directos a nós, membros da Direcção da ANIMAL. (...)
4. De resto, quem quer (e já está a tratar disso) instalar um hipódromo para as nada tradicionais corridas a cavalo com apostas no principal pulmão de Lisboa, Monsanto? Se antes planeava fazê-lo utilizando para isso os poderes que tinha enquanto Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Pedro Santana Lopes, agora, como Primeiro-Ministro, estará em melhores condições de realizar este seu escandaloso projecto, quando deveria deixar tanto os cavalos como as árvores de Monsanto em paz...
Serão necessários mais exemplos? Será de crer que não vão tentar legalizar o tiro aos pombos, sendo que alguns dos seus principais promotores são ministros, com o directo, activo e alto patrocínio do Primeiro Ministro? Eu acho que a consciência de Pedro Santana Lopes deve ser um autêntico pesadelo. Só que não a ouvirá, certamente... Tal como quero sempre acreditar que o mesmo poderá ser dito das pessoas que prejudicaram brutalmente a humanidade. Definitivamente, Pedro Santana Lopes representa muito do que a mim mais me repugna, e que gostaria que os meus filhos não conhecessem sequer."
22/07/04
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sexta-feira, 23 de julho de 2004
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