domingo, 14 de dezembro de 2008

Pensar e Conhecer/Sentido e Verdade



"O grande obstáculo que a Razão (Vernunft) põe no seu próprio caminho ergue-se do lado do intelecto (Verstand) e do critério inteiramente justificado que este estabeleceu para os seus próprios propósitos, isto é, para matar a nossa sede e satisfazer a nossa necessidade de conhecimento e cognição. A razão pela qual nem Kant nem os seus sucessores prestaram alguma vez atenção ao pensar como uma actividade e ainda menos às experiências do eu pensante é que, a despeito de todas as distinções, estavam a exigir o género de resultados e a aplicar o género de critérios para a certeza e para a evidência que são os resultados e os critérios de cognição. Mas se é verdade que o pensar e a razão têm justificação para transcender os limites da cognição e do intelecto - justificados por Kant com o fundamento que as matérias com eles lidam, apesar de incognoscíveis, são do maior interesse espiritual para o homem - então o pressuposto deve ser que o pensar e a razão não estão interessados naquilo em que o intelecto está interessado. Antecipando e para ser breve: a necessidade da razão não é inspirada pela demanda de verdade, mas, sim, pela demanda de sentido. E verdade e sentido não são o mesmo. A falácia básica - que toma precedência sobre todas as falácias metafísicas específicas - é interpretar o sentido segundo o modelo da verdade." (Hannah Arendt, The Life of the Mind/ A Vida do Espírito).

1 comentário:

Marta Rema disse...

lindo. lembra-me uma entrevista que a Augustina deu ao escolher o 'filme da sua vida' (Os Contos da Lua Vaga) à Inês de Medeiros. a certa altura ela insistia muito em saber coisas acerca da verdade na obra da escritora. e ela sai-se com esta, no seu melhor estilo: «Eu não quero saber da verdade para nada.» :-)