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A lenda do ser errante, como é o caso do holandês amaldiçoado, pode ter raízes míticas mais fundas. Lembrei-me que, na grande epopeia indiana
Mahabharata, o filho de Drona, Ashvatthaman, é amaldiçoado por Krishna. Com efeito, Ashvathaman lança a sua temível arma sobre os ventres das mulheres dos poucos Pandavas que sobreviveram ao seu massacre, com o objectivo de que elas nunca mais tenham filhos. Para evitar o fim dinástico dos Pandavas, Krishna promete ressuscitar o feto que a nora de Arjuna, Uttara, traz no ventre e que terá o nome de Parikshit. Ora, pelo seu acto, Ashvattaman é condenado por Krishna a vaguear sozinho e errante até ao fim dos tempos. Aqui não existe Senta nem o seu amor redentor do
Navio Fantasma de Wagner, mas o mito é, no essencial, o mesmo. A fotografia é a do personagem Ashvatthaman na recriação teatral do
Mahabharata por Peter Brook (agora em DVD, na zona 2).
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