domingo, 3 de julho de 2005

Medos

Recentemente o blog Alicerces transcreveu uma interessante entrevista de António Damásio à revista francesa L'Express. Traduzo uma passagem:

"António Damásio: A mosca - que apenas possui um sistema nervoso minúsculo - experimenta, ela também, emoções: se a irritarmos, ela põe-se a voar em todas as direcções para evitar ser esmagada. Veja o caso da Aplysia, um pequeno caracol do mar. Se o tocarmos, ele retrai-se, o seu coração começa a bater com maior rapidez, a sua pressão sanguínea aumenta, observando-se a emissão de hormonas em todo o corpo, e o animal emite tinta negra para se esconder face do predador.

Dominique Simmonet: Não me diga que ele tem medo?!

António Damásio: Claro que sim! Assiste-se a um miniconcerto desta emoção que se designa, com efeito, por "medo" e que também nos afecta tal como a este caracol. Mas há uma outra questão: será que a Aplysia sente para si o medo? Neste ponto, duvido. Este animal não representa esta emoção para si próprio, não a pensa, diferentemente de espécies animais complexas que têm, além disso, uma gama de emoções sociais: a simpatia, o embaraço, a vergonha, a culpabilidade, o orgulho, a inveja, a gratidão, a admiração, a indignação, o desprezo... Os pássaros, os cães, os macacos experienciam para si próprios a emoção, o que quer dizer que eles têm a possibilidade de estabelecer uma relação entre a reacção automática do seu organismo e o objecto, o evento ou a pessoa que esteve na sua origem. (...) Penso que os pássaros e os mamíferos têm sentimentos. Ficaria muito surprendido se eles não os tivessem. Os comportamentos destes animais são muito próximos dos humanos."

1 comentário:

hfm disse...

Gostaria de ter traduzido toda a entrevista, falta-me o tempo. Obrigada.