domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rendition



A razão fundamental da derrota do partido republicano, identificado com George W. Bush, foi a profunda crise social que se abateu sobre os Estados Unidos nestes últimos anos. Mas há uma derrota moral que, a meu ver, se prende essencialmente em tornar prática comum actos que põem em causa os próprios alicerces da democracia ocidental. Um desses actos - criado, diga-se a verdade, por Bill Clinton (o que não lhe fica muito bem na "imagem") - é a conhecida prática da "extraordinary rendition" (para já, traduzo por 'entrega extraordinária', embora não goste da tradução), i.e. o envio secreto de suspeitos de actos ligados a terrorismo para países aliados dos Estados Unidos onde se pratica a tortura (numa palavras, os chamados voos da CIA...). Neste filme do realizador sul-africano Gavin Hood (conhecido sobretudo pelo excelente filme Tsotsi), torna-se visível a razão de ser dessa "derrota moral" (a meu ver, a pior que se pode ter). E mais uma vez nos interrogamos sobre os limites éticos do consequencialismo (o valor moral de uma acção mede-se pelas consequências que acarreta, mais do que pelo respeito pelos direitos inalienáveis de cada pessoa). No discurso de investidura como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama pôs o dedo na ferida ao dizer:

"As for our common defense, we reject as false the choice between our safety and our ideals. Our Founding Fathers, faced with perils we can scarcely imagine, drafted a charter to assure the rule of law and the rights of man, a charter expanded by the blood of generations. Those ideals still light the world, and we will not give them up for expedience's sake. And so to all other peoples and governments who are watching today, from the grandest capitals to the small village where my father was born: know that America is a friend of each nation and every man, woman, and child who seeks a future of peace and dignity, and that we are ready to lead once more.
Recall that earlier generations faced down fascism and communism not just with missiles and tanks, but with sturdy alliances and enduring convictions. They understood that our power alone cannot protect us, nor does it entitle us to do as we please. Instead, they knew that our power grows through its prudent use; our security emanates from the justness of our cause, the force of our example, the tempering qualities of humility and restraint."

O filme de Gavin Hood, tem nos principais papéis: Meryl Streep, Jake Gyllenhaal, Yigal Naor, Reese Witherspoon, Omar Metwally, Alan Arkin e Peter Sarsgaard.



Se tiver dificuldades em ver ou ouvir, clique AQUI.

2 comentários:

afhahqh disse...

Bush não era deontologista?

O consequencialismo pode levar a actos horríveis.

Talvez uma ética guiada pela compaixão (ao estilo das religiões) seja a melhor.

Uma ética guiada pelos sentimentos, mas também tendo em conta as consequências.

Não sei.

afhahqh disse...

Penso que a étcia de Deus é "colhes o que semeias" ou "cada um recebe mal ou bm segundo o mal ou bem que faz", e isso, penso, vai dar ao karma e é igual em todas as religiões.

Embora Cristo diga que, segundo o Evangelho, devemos amar até os nossos inimigos, pois o que custa amar os amigos?

Penso que um pouco como ouvi uma vez um professor de ética dizer "devemos ser tolerantes com o intolerável, pois o que custa tolerar o que é tolerável?".

Penso que a melhor ética é a da entega, como fizeram Madre Teresa ou São Francisco. Ou Cristo ou Buda. Mas isso não está ao alcance de nós, pecadores, comuns mortais, repletos de dúvidas e vícios - ou estará?

A derrota moral começa no arrependimento, e depois ou caímos no mesmo, ou nos tornamos pessoas melhores.

Quanto aos paraísos artificiais, são um inferno...