quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Estudo de um caso
Ainda antes de continuar os meus posts sobre "identidades confusas", gostaria de vos apresentar um caso filosófico que nos vai deixar nalguma confusão (positiva, bem entendido). Ele foi pensado pelo filósofo norte-americano Sydney Shoemaker (na fotografia), defensor de uma concepção funcionalista da identidade pessoal.
Parafaseando o autor, o caso em questão é o seguinte: imaginemos que vivemos numa sociedade futura na qual a medicina consegue realizar transplantes de cérebros entre diferentes corpos. Vamos imaginar que o meu corpo e um dos hemisférios cerebrais foi atingido por um tumor maligno; apenas o outro hemisfério cerebral se mantém saudável. O meu médico vem ter comigo e coloca-me perante a seguinte alternativa: a) realiza-se um transplante do hemisfério cerebral saudável para um outro corpo (por ex. criado geneticamente) deixando o outro hemisfério morrer progressivamente; b) destrói-se primeiro o hemisfério doente e só depois é que se realiza o transplante da parte saudável. E o médico acrescenta: o primeiro método é vantajoso porque o risco de vida é mínimo, além de ser um processo mais simples e expedito. Mas tem um inconveniente: durante um período de tempo existirão duas pessoas em continuidade psicológica consigo, i.e dizendo que são você!
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2 comentários:
esse confronto devia ser de uma violência extrema! porque ambas as identidades possuiriam uma só indiscutível verdade... esta concepção (que eu estou curiosa por conhecer!) reduz a questão da identidade pessoal à biologia: a definição de 'pessoa' fica limitada ao quanto a genética regista.
mas não digo «reduz» num sentido pejorativo. quando penso em ciência, lembro-me sempre de duas coisas: Einstein antes de morrer disse que quase tinha chegado a Deus. e a física quântica salvou-(me)nos finalmente do Descartes (um exemplo do meu sentimento em relação a este filósofo: a primeira vez que li o título "Regras para a direcção do espírito" fiquei doente de tanto rir), quando anunciou que o observador não só muda o objecto como é mudado pelo objecto.
"reduzir" a questão à biologia implica por exemplo anular a hipótese de qualquer argumentação contrária a incluir os animais sob a denominação de pessoa.
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