sábado, 1 de novembro de 2008

Identidades confusas (1)


Quando procuramos pensar o problema da identidade pessoal habitualmente confrontamo-nos com vários tipos de incompreensão.
O primeiro e mais comum consiste em colocar a seguinte objecção: como se pode falar de identidade pessoal se nós ao longo da vida nos tornamos tão diferentes?
Sem dúvida que nos tornamos muito diferentes ao longo do tempo - por vezes, tornamo-nos tão diferentes que os outros já não nos reconhecem ou nós próprios temos dificuldades em reconhecermo-nos na imagem reflectida num espelho - mas essas diferenças, maiores ou menores, acontecem a uma e mesma pessoa.
Ora, a questão da identidade pessoal consiste em determinar o critério pelo qual tem sentido falar-se de uma mesma pessoa.
Esta confusão entre a identidade quantitativa (uma única pessoa e não duas, três,...) e identidade qualitativa ("como é possível? Não mudaste mesmo nada") leva a uma outra confusão no âmbito do mesmo registo: será que dois gémeos têm a mesma identidade pessoal? É evidente que não; por muito parecidos (identidade qualitativa) que sejam em termos físicos e psicológicos serão sempre duas pessoas.
O mesmo aconteceria se existissem clones humanos; o facto de uma pessoa ser clonada não a torna na mesma pessoa que constituiu o seu modelo. Bastaria colocar essas duas pessoas tão "idênticas" perante a seguinte alternativa: "uma de vocês ganha a lotaria e a outra é torturada. O que é que escolhem?". Apesar das pessoas serem tão parecidas qualitativamente, em termos de uma decisão egoísta, não é difícil imaginar a resposta...

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