A minha mãe adorava contar-me histórias e eu era um ouvinte bem atento! Como tinha uma mãe muito liberal, era-me autorizado ver filmes de terror à noite (ainda tenho pesadelos quando me recordo da série Baal na televisão portuguesa). Se ficasse com insónias, tomava uns calmantes e, assim, não perdia pitada... Mas o enredo mais sinistro que me foi narrado é aquele que todos nós conhecemos na infância: Hänsel e Gretel, o célebre conto dos irmãos Grimm. Só de pensar que os pedacinhos de pão (seriam já os saborosos croutons?) lançados estrategicamente no labirinto da floresta eram comidos pelos pássaros, deixava-me em pura ansiedade, pois apercebia-me que o mundo poderia conspirar involuntariamente contra a nossa segurança. E a perspectiva da casa da bruxa ser de chocolate, criava um paradoxo de pesada angústia.
Ora, no dia de hoje, em 1921, morria o compositor alemão Humperdinck, o autor da ópera Hänsel und Gretel, com libretto da sua irmã, Adelheit. Humperdinck foi amigo de Wagner e colaborou na produção do Parsifal em Bayreuth. Embora seja um músico pouco conhecido em Portugal, foi ele o inventor do Sprechgesang, misto de canto e de fala que Schoenberg irá utilizar nas suas obras. Conclusão: como é bom trabalhar em assuntos tão sérios como são os dramas líricos, ao mesmo tempo que se pisca os olhos à infância...
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