domingo, 12 de fevereiro de 2006

Responsabilidade

Pela primeira vez, não estou de acordo com a Fonte do Horácio. O argumento da responsabilidade não deve ser usado para coarctar a liberdade de expressão, desde que esta última não fira princípios legalmente estabelecidos em regimes democráticos. É essa a razão pela qual existem leis que protegem os cidadãos de actos irresponsáveis na imprensa (incitamento à violência, lesão do bom nome das pessoas, etc.). Não penso que os "cartoons dinamarqueses" tenham ferido nenhuma dessas leis. Mas se alguém se sente ofendido com eles, o que deve fazer é processar o jornal. E os tribunais devem determinar se houve ou não acto doloso e criminal. Será que vamos dizer que Rushdie, Scorsese, Serrano, Godard ou Saramago, entre tantos outros, foram irresponsáveis e que, como tal, devem ser condenados moralmente? Será que vamos dizer que estão ao mesmo nível daqueles que agiram violentamente por se sentirem ofendidos com as suas obras? Triste a democracia que os equiparasse!

1 comentário:

Horácio disse...

Viva Bhixma,

concordo contigo quando dizes que a responsabilidade não deve coarctar a liberdade. Contudo, parece-me que associas a responsabilidade a uma coação, a uma diminuição da liberdade. Para mim a responsabilidade é o princípio da liberdade.
Não sou de modo algum a favor da proibição dos cartoons e concordo contigo que a reacção do primeiro-ministro da Dinamarca foi corajosa e subscrevo-a. O pedido de desculpas não faz sentido nenhum! E defendo, Bhixma, as leis da nossa cidade (" as leis que protegem os cidadãos de actos irresponsáveis na imprensa" ) e são a elas que se deve recorrer e não à violência. Contudo, não posso deixar de me revoltar com o aproveitamento feito por alguns para instigar o ódio e para fazerem da guerra uma inevitabilidade. Penso, e procurei dize-lo na fonte ao que parece “desconseguindo” :-) , que em momentos de crise e quando temos “a razão do nosso lado” devemos ponderar melhor, reflectir, ter mais cuidado com os nossos actos e não arrogarmo-nos de civilizados e reduzirmos o mundo a um maniqueísta. É contra isso que me revolto, é a favor da pluralidade e do respeito por todos os povos que defendo a responsabilidade com o princípio ético da nossa liberdade. Responsabilidade essa, que sempre senti serei os carris do Expresso do Oriente desde que o leio.

Um abraço de amizade
Horácio