quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Tolerância

Numa época em que alguns grupos minoritários islâmicos manifestam uma intolerância *intolerável*, mais do que propor jogos de futebol euro-árabes (com os iranianos, paquistaneses e indonésios a assistir...:-) importa sublinhar a natureza essencialmente tolerante do Islão. E, para esse efeito, nada melhor do que citar um dos seus grandes mestres, o poeta Movlana (1207-1273), mais conhecido no Ocidente por Rumi:

“Eu não sou nem cristão nem judeu, nem parse nem muçulmano.
Eu não sou nem do Oriente nem do Ocidente, nem da terra nem do mar.
Eu não sou nem da natureza nem dos céus envolventes;
Eu não sou nem da terra nem da água, nem do ar nem do fogo;
Eu não sou nem do empíreo nem da poeira, nem da existência nem da entidade.
Eu não sou da Índia nem da China, nem dos Búlgaros nem de Saqsin
Eu não sou nem do reino do Iraque, nem da terra de Khurasan .
Eu não sou nem deste mundo nem do outro, nem do Paraíso nem do Inferno.
Eu não sou nem de Adão nem de Eva, nem do Éden nem de Rizwan.
O meu lugar é a ausência de lugar, o meu rasto é a ausência de rasto.
Eu não sou nem corpo nem alma, porque pertenço à alma do Bem-Amado.
Eu libertei me da dualidade, eu vi que os dois mundos são um só;
Eu busco o Uno, conheço o Uno, vejo o Uno, chamo o Uno.
Ele é o primeiro, Ele é o último, Ele é o exterior, Ele é o interior.
Eu não conheço ninguém a não ser Ele.
Eu estou intoxicado pela taça do amor; os dois mundos
passaram fora da minha vista.
Nada mais tenho a fazer, se não festejar e alegrar me.
Se passei na minha vida um só instante sem ti,
Toda a vida me arrependo desse tempo e dessa hora.
Se mereço passar neste mundo um só instante contigo,
Eu calcarei com os pés esses dois mundos, dançarei triunfalmente para sempre.”
Livro de poemas de Shams de Tabriz

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