quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Espelhos/2
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"Celebramos cada momento
dos nossos encontros como epifanias,
apenas nós os dois em todo o mundo.
Audaciosa e mais leve do que a asa de um pássaro,
pela escada abaixo, corrias com uma vertigem
através do lilás húmido até ao teu reino
escondido atrás do espelho.
Quando a noite chegava, a graça obsequiava-me,
as portas do santuários eram abertas.
Brilhando na noite, a tua nudez inclinava-se suavemente;
acordando, dizia:
"Bendita sejas!"
Era ousada a minha bênção: tu dormias.
E o lilás inclinava-se para ti através da mesa
para cobrir as tuas pálpebras com o azul universal;
as tuas pálpebras pintadas de azul
estavam calmas e a tua mão era quente.
E no cristal vi o pulsar dos rios,
montes fumegando e mares bruxuleantes;
segurando na tua mão aquela esfera cristal,
adormecias no teu trono.
E - Deus seja louvado! - tu eras minha.
Acordando, tu transformavas
o vocabulário corrente dos humanos
até a sua linguagem ser plena e a palavra "tu"
revelar novos significados: significava rainha.
Tudo no mundo era diferente,
mesmo as coisas mais simples - o jarro, a bacia -
enquanto a água sólida, estratificada, fluía entre nós,
como uma sentinela.
Fomos levados sabe-se lá para onde.
Diante de nós foi aberta, como numa miragem,
cidades de encanto construídas,
a hortelã espalhava-se aos nossos pés,
pássaros viajam connosco,
peixes saudavam-nos do rio,
os céus aos nossos olhos se rasgavam...
Enquanto, atrás de nós, todo o tempo se tornava destino,
como um louco brandindo uma lâmina em riste."
Poema de Arseny Tarkovsky (o pai de Tarkovsky, já citado em Janeiro de 2005; a voz que se ouve no filme é a do próprio pai do realizador). Ainda não me foi possível encontrar a imagem que queria do Stalker, conforme me pediu a Helena, mas a referência feita pela Carocha em "Espelhos" levou-me a fazer este novo.
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1 comentário:
poema magnífico!
http://www.anglemagazine.org/articles/Into_the_Mystic_The_Spiritual_2084.asp
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