quarta-feira, 12 de março de 2008

Breath



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Certamente a peça de teatro mais curta que alguma vez foi feita. Chama-se Breath (1969) e foi criada pelo escritor irlandês, Samuel Beckett. Tem uma duração de cerca de 25 segundos. Inscreve-se, assim, no conjunto dessas obras "provocatórias" da arte contemporânea como, por exemplo, o 4'33'' de John Cage ou "A Fonte" de Duchamps. Coloco o adjectivo "provocatório" entre aspas porque essa é a questão menos importante. A inteligibilidade dessas obras encontra-se no acto de reflexão a que somos solicitados sobre a natureza da própria arte. Como o filósofo norte-americano Arthur C. Danto sublinhou, estas obras encontram o seu sentido enquanto atitudes em face do próprio mundo da arte (artworld).
E, no entanto, esta peça miniatura pode também ser vista como a síntese da visão beckettiana do mundo e que encontra nestas palavras de En attendant Godot a sua explicitação: "Dão à luz sobre uma sepultura, a luz brilha um instante e, então, é noite uma vez mais."

Para aferir do rigor da interpretação desta peça, transcrevo as próprias instruções de Smauel Beckett:

B R E A T H

CURTAIN

1. Faint light on stage littered with miscellaneous rubbish. Hold about
five seconds.
2. Faint brief cry and immediately inspiration and slow increase of light
together reaching maximum together in about ten seconds. Silence and
hold for about five seconds.
3. Expiration and slow decrease of light together reaching minimum
together (light as in 1) in about ten seconds and immediately cry as
before. Silence and hold about five seconds.

CURTAIN

RUBBISH
No verticals, all scattered and lying.

CRY
Instant of recorded vagitus. Important that two cries be identical,
switching on and off strictly synchronized light and breath.

BREATH
Amplified recording.

MAXIMUM LIGHT
Not bright. If 0 = dark and 10 = bright, light should move from about
3 to 6 and back.

Podem assistir a uma interpretação alternativa, aqui:


3 comentários:

afhahqh disse...

"Breathe, breathe in the air, don't be afraid to care..." Pink Floyd, "Breathe".

Um abraço, Nuno.

hfm disse...

Ainda estou a digerir.

Marta Rema disse...

já conhecia algum trabalho dele nesta área. é dos artistas mais intensos que alguma vez conheci. tem uma peça estranha, arrebatadora mas também assustadora (acho que lhe chama poema) em que quatro ou cinco pessoas fazem uma espécie de rápido bailado sem saírem de um quadrado de chão... infelizmente estou num pc sem audio mas hei-de cá voltar! :-)