quinta-feira, 10 de julho de 2008

Elegia


"Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens
dos anjos? e mesmo que um me apertasse
de repente contra o coração: eu morreria da sua
existência mais forte. Pois o belo não é senão
o começo do terrível que nós podemos ainda suportar
(...)
E assim eu me reprimo e engulo o chamamento
dum soluçar escuro. Ai! de quem poderíamos
nós então valer-nos? Nem de anjos, nem de homens,
e os bichos perspicazes repararam já
que nós não estamos muito confiados em casa
neste mundo explicado. Resta-nos talvez
qualquer árvore na encosta, que de novo a vejamos
diariamente; resta-nos a estrada de ontem
e a fidelidade amimada de um costume,
que gostou de estar connosco, e por isso ficou e se não foi.
(...)
Sim as primaveras precisavam de ti. Muitas estrelas
esperavam de ti que as sentisses."
Rilke, As Elegias de Duíno, trad. de Paulo Quintela

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