via ABRUPTO by JPP on 7/1/08
POEIRA DE 1 DE JULHO"Hoje, há noventa e três anos, Viriginia Woolf tinha deixado de escrever o diário que começara nesse ano e encontrava-se deprimida, violenta, agressiva. No meio da sua depressão deixou de dormir e perguntava aos seus amigos como é que faziam à noite. Um deles, talvez o seu cunhado Clive Bell, disse-lhe que todas as noites lia meia dúzia de páginas de Tucídides, descrevendo batalhas ou escaramuças da guerra do Peleponeso. Depois fechava a luz e imaginava-as com todos os precisos detalhes, o cheiro da urze, o barulho das espadas, a pedra onde se sentou um guerreiro de Esparta olhando para o pôr-do-sol enquanto morria, as azeitonas comidas à sombra depois de uma batalha, o pó levantado pelos caminhos, o silêncio. Muitas destas coisas não vinham em Tucídides, inventava-as e permanecia centrado naquilo em que queria pensar e não naquilo em que pensava e não o deixava dormir. Quando não conseguia, voltava a Tucídides".
1 comentário:
é só truques :-)
«ocupar a mente com aquilo em que ela não pensa quando não consegue desligar.»
acho que desde que não seja análise... daí os cheiros, as visões de luz e de poeira, os sabores, os sons e a ausência de som. e no entanto tudo isso é igualmente criado pela mente (?). que diferença? o uso que lhe damos? o modo como nos implicamos? faz-me pensar que só criamos aquilo em que acreditamos, mesmo que seja gerado pela loucura. ou melhor, talvez nada exista que não tenha sido gerado pela loucura. talvez a diferença seja essa: o modo como aderimos ao nosso próprio pensamento. o modo como acreditamos naquilo em que pensamos e imaginamos.
é curioso como todos nós podemos perceber os sintomas de tantas doenças do foro psicológico. como se fosse imensamente ténue a linha que nos separa de um fosso onde a razão é apenas mais um algarismo.
enfim, estou a delirar :-) às vezes penso: "meu deus ainda bem que não foste para matemática." e logo a seguir lembro-me: "hum. tinhas de escolher qualquer coisa complicadinha!" hehe...
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