sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ideia Simplex



Li, com todo o interesse, o artigo publicado no último número da revista Visão sobre a polémica em torno da avaliação dos professores do Ensino Secundário. A dado ponto, podemos apreciar os diferentes métodos de avaliação adoptados nos países da União Europeia. O da Finlândia parece-me o mais eficaz: o Ministério de Educação verifica regularmente os resultados da avaliação dos alunos em exames nacionais. Quando se encontram problemas - por exemplo, um número excessivo de reprovações ou notas sofríveis - vai-se verificar o que se passa... Posso estar a ser ingénuo, mas não é este o sistema mais justo e simples de avaliação? A Finlândia não é actualmente apontada como o paradigma do ensino com qualidade? Por que razão andamos sempre a tentar inventar a pólvora?

4 comentários:

Marta Rema disse...

aqui há uns dias, numa reportagem sobre a introdução de sistemas informáticos nas escolas, um jornalista dizia que na Finlândia estão a reduzir o acesso aos computadores nas escolas, porque os alunos estão a revelar acentuadas dificuldades na concentração e desinteresse pela sociabilidade. ao mesmo tempo, Portugal e provavelmente outros países, imita o modelo que foi introduzido na Finlândia há anos atrás e que está agora a sofrer algumas alterações, pois já foi testado e está a ser adaptado. a capacidade de resposta de quem segue um modelo, tem de ser mais rápida. é preciso estar em constante actualização.
achei também flagrante, penso que na mesma reportagem, que a escola mais informatizada do país (onde não circula dinheiro, onde há um computador para cada dois alunos, onde as saídas e entradas são registadas com um cartão...), tenha salas onde chove, tubos de gás à mostra com fugas calafetadas, tinta a estalar com a humidade, salas tão pequenas que o professor não consegue passar entre as carteiras. também vi uma vez uma reportagem sobre a Finlândia, as escolas deles até faziam suspirar!

e-ko disse...

os nossos professores nunca aceitariam um modelo de avaliação como o que é praticado na Finlândia. já os ouvi dizer que isso nunca, mesmo que tenham ou não conhecimento do modelo finlandês.

parece-me que há muita suberba e muito umbiguismo nesta "luta" da classe contra o ministério.

Bhixma disse...

Conheço mal o sistema de avaliação que o ME quer instalar nas escolas. Lembro-me que quando ensinei no sistema privado, o "sistema finlandês" era aplicado; melhor dizendo, nem era preciso a direcção da escola aplicá-lo. Quando os alunos tinham boas notas nos exames nacionais sentíamos que estávamos a fazer um bom trabalho; quando os resultados eram menos bons ninguém precisava de nos dizer que tínhamos de melhorar rapidamente as nossas estratégias de ensino...
O que me parece é que ninguém está muito interessado em exames: os alunos porque podem reprovar; o ME porque os exames têm custos financeiros e podem ferir as estatísticas europeias e, por aquilo que me dizes, os professores (mas neste caso nem percebo porquê....)

Pedro Galvão disse...

Li a Visão e também me pareceu que o modelo mais inteligente é o finlandês. Claro que, como observa, esse modelo pouco interessa ao nosso ME, que tem desvalorizado a avaliação externa e quer sobretudo promover o falso sucesso. Uma das coisas mais chocantes, aliás, do modelo que tem suscitado toda esta agitação é o facto de um professor ser avaliado em função das notas que dá aos alunos: se as notas dos seus alunos subirem de ano para ano, isso beneficia o professor. Isto é um incentivo descarado para inflacionar as notas, do que decorrerá um pior ensino.

A ministra só vai buscar ao modelo finlandês o que lhe interessa. Por exemplo, na Finlândia parece que os miúdos não chumbam -- e a ministra já disse que daqui a uns anos as reprovações são para acabar. Ora, essa medida na Finlândia até pode resultar, porque lá incentivam e controlam a qualidade do ensino (levando muito a sério a avaliação externa, por exemplo), mas cá vai ser só mais um passo para a degradação do ensino.

Quanto aos professores, bom, haverá de tudo: muitos quererão apenas um modelo de avaliação inócuo, em que praticamente todos tenham muito bom e excelente; muitos outros acolheriam com grande satisfação um modelo exigente, mas suficientemente simples e baseado em critérios que realmente importam. Lamentavelmente, parece-me que os sindicatos representam sobretudo os professores do primeiro tipo.