segunda-feira, 2 de agosto de 2004
Filme genial
Ontem à noite vi um filme genial: Balzac e a Pequena Costureira Chinesa. O filme é de 2002 e foi realizado por Dai Sijie. Ele baseia-se numa obra homónima que ele próprio escreveu no ano 2000. A história é simples: dois jovens (Luo e Ma), na época da revolução cultural chinesa, são enviados para o campo no sentido de serem "reeducados". O seu único crime: serem "intelectuais". Na região onde trabalham, conhecem uma rapariga, neta de um velho alfaite, a "costureira chinesa". O grande ponto de encontro entre os três será a leitura de obras proibidas pelo regime, romances de Balzac, de Dumas, de Flaubert, de Rolland, entre tantos outros. A "costureira" nunca mais será a mesma após a leitura daqueles livros, em particular os de Balzac, pois este escritor, nas palavras dela, mais do que qualquer outro, soube retratar o valor precioso da beleza feminina. A história do filme passa-se numa zonas mais belas da China - as Três Gargantas -, no local onde está a acontecer um dos maiores crimes ecológicos do século com a construção de uma barragem monumental. Apesar do filme ter sido realizado na China, tanto o livro como o filme estão proibidos. O que, no contexto, não deixa de ser profundamente irónico, na medida em que versões do livro e do filme circulam no "mercado negro". A grande força do filme é a sua sensibilidade aos problemas humanos e a ironia como aborda as proibições políticas em relação às obras de arte. Tocava-se uma sonata de Mozart desde que ela tivesse o putativo nome de "Mozart pensa no presidente Mao"; narra-se um melodrama desde que tenha sido realizado por um hipotético "realizador albanês". Dickens é deixado em paz, pois os seus biogodes são parecidos com os de Lenine. Estamos, em face, de um dos filmes mais belos de homenagem à arte e, em particular, ao papel libertador da literatura. Como Ma, apetece-nos gritar bem alto o nome de Ursule Mirouët...
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