domingo, 1 de agosto de 2004

A Inocência Perdida

Gostei sempre imenso do mito de Balder ou Baldr. Trata-se de uma história nórdica que nos fala de um deus cuja inocência o colocava acima de todas as divindades. Um dia sonha que vai morrer. A sua mãe, mãe dos deuses, decide solicitar a todos os seres que não fizessem mal ao filho, poupando a sua vida. E assim acontece. Balder torna-se invencível. O seu principal prazer consistia em sentar-se no chão enquanto os outros deuses se colocavam em torno dele, alvejando-o com todas as armas possíveis: lanças, martelos, pedras. Mas as armas apenas ricocheteavam no seu corpo e nada de mal lhe sucedia. Loki (o Loge de Wagner) ressentido, decide montar-lhe uma armadilha. Sabe que apenas um elemento natural nada tinha prometido porque a mãe de Balder o tinha achado muito frágil e, como tal, inofensivo: a planta do visco, aquela que é usada pelos druídas. Loki transforma uma folha de visco numa seta e pergunta ao irmão cego de Balder, Hodder, se também quer entrar no jogo do círculo dos deuses em volta de Balder. Feliz por poder participar, Hodder lança a Balder aquela pequena seta que se crava no coração do deus que se julgava imortal. Balder morre e a tristeza invade todos os mundos. Apesar de estar preso de Hel, a deusa dos infernos, Balder será dos poucos deuses a sobreviver ao crepúsculo dos deuses. Ora, é interessante verificar que Wagner nunca explorou este mito, apesar de ele ser central na cultura germânica. A meu ver, o mito ecoa no Anel, no modo como Wagner analisa a figura de Brünnhilde. Tal como Balder, Brünnhilde é um ser divino que perde a sua imortalidade; associada ao sono de Brünnhilde está um pequeno espinho; como Balder, Brünnhilde é punida por Loki (o círculo de fogo). Finalmente, como Balder, o seu sacrifício indicia uma nota de esperança para o mundo.

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