sábado, 7 de agosto de 2004

A Migalha e o Ouro

"Estava mendigando de porta em porta
no caminho da aldeia, quando a
tua carruagem de ouro apareceu ao longe,
como um sonho deslumbrante. E eu
perguntei-me, extasiado, quem seria
esse Rei dos reis.

A minha esperança voou e
pensei que os meus dias infelizes tinham
chegado ao fim. E fiquei sentado,
esperando esmolas dadas sem serem
pedidas, e um tesouro derramado pelo
chão, por todo o lado.

A carruagem parou onde estava
sentado. O teu olhar pousou sobre mim e
desceste sorrindo. Senti que a felicidade da
minha vida por fim havia chegado. Então,
de repente, estendeste a mão direita e
perguntaste: "O que tens para dar a mim?"

Ah, mas que gesto régio foi esse o de
abrir a tua mão para pedir esmola a um
mendigo? Estava confuso e não sabia o
que fazer. Então, bem devagar, tirei da
minha sacola o último e menor grão de
trigo e entreguei-o a ti.

Contudo, qual não foi a minha
surpresa quando, no fim do dia, esvaziei a
minha sacola no chão e encontrei um
grão de ouro entre as pobres migalhas que
restavam! Chorei amargamente,
lamentando não ter tido a coragem de
entregar-me todo a ti."
Tagore

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