"Algumas vezes as crianças são capazes de ver com claridade coisas que realmente se tornam obscuras mais tarde na vida. Esquecemo-nos frequentemente da sensação de admiração que sentimos enquanto crianças quando as preocupações das actividades do "mundo real" ainda mal começaram. Elas não têm medo de colocar questões fundamentais que nós, adultos, já não ousamos perguntar. O que acontece à nossa consciência quando morremos? Onde estava antes de ter nascido? Podemo-nos tornar, ou já o fomos, outra pessoa? Porque é que somos capazes de ter percepções? Porque é que existimos? Porque é que existe um universo no qual podemos existir? São enigmas que surgem com o despertar da consciência em qualquer um de nós (...).Lembro-me de ter sido perturbado por muitos destes enigmas, enquanto criança. Talvez a minha consciência possa ser subitamente trocada com a de uma outra pessoa. Como é que eu poderia saber se isto não sucedeu já — supondo que cada pessoa só «transporta» as memórias que a ela dizem respeito? (...) Talvez só o instante presente «exista» para mim. Talvez o «eu» de amanhã, ou o de ontem, seja uma pessoa diferente, dotada de uma consciência independente da minha."
Roger Penrose, A Mente Virtual (The Emperor's New Mind)
1 comentário:
Excelente texto que ilustra o puro espanto filosófico! A questão é que sempre me incomodou: o espanto filosófico pode ser provocado?
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