terça-feira, 31 de julho de 2007

Morreu Antonioni



Morreu ontem também Antonioni, o grande realizador de cinema italiano. O cinema está de luto com a morte de dois dos seus grandes mestres.


Mistério de Oberwald (1981), filme de Antonioni baseado numa peça de Jean Cocteau

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Morreu Ingmar Bergman



Morreu hoje, com 89 anos, o realizador Ingmar Bergman. Foi inegavelmente uma das personalidades mais marcantes do pensamento contemporâneo. É trivial dizer isto... mas o que se vê nos media são sempre mais e mais informações sobre o folhetim madrileno de Simão...Triste país!
Nota: a SIC deu às 21:20, no final do noticiário, uma ampla notícia sobre Bergman. Ainda há esperança...

Saraband, filme de Bergman de 2003.

domingo, 29 de julho de 2007

8 Mulheres


Virginie Ledoyen e Emmanuelle Béart no filme 8 mulheres

A ideia central que subjaz ao filme de François Ozon, 8 femmes, é, no mínimo, delirante. Realizar um policial - estilo Agatha Christie - mas musical (relebrando naturalmente Dancer in the Dark de Lars von Trier). A razão, a meu ver, do êxito deste filme deriva do facto de ser, no essencial, uma peça de teatro - e todas as pessoas gostam de teatro mesmo quando julgam que não... - na qual oito das melhores actrizes francesas podem mostrar o seu valor.

Catherine Deneuve, "Gaby"
Isabelle Huppert, "Augustine"
Emmanuelle Béart, "Louise"
Fanny Ardant, "Pierrette"
Virginie Ledoyen, "Suzon"
Ludivine Sagnier, "Catherine"
Firmine Richard, "Madame Chanel"
Danielle Darrieux, "Mamy"



Se não conseguir ver ou ouvir, clique AQUI.
Podem aqui ouvir a canção de Ludivine Sagnier (cada actriz interpreta a "sua" canção). Ludivine é acompanhada na dança por Catherine Deneuve e Virginie Ledoyen. Danielle Darrieux - que tem agora de 90 anos... - e Isabelle Huppert observam a "performance". Recordações de infância... Era assim que eu dançava quando era pequenito. .)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Recordações de Infância






Se tiver dificuldades em ver ou ouvir, clique AQUI.
E clique nas imagens para ver melhor.

Are you going to Scarborough Fair?
Parsley, sage, rosemary and thyme,
Remember me to one who lives there,
For she once was a true love of mine.

Esta é uma canção bem antiga que eu adorava cantar quando era criança. Levei algum tempo a perceber o sentido das palavras "parsley, sage, rosemary, and thyme"... pareciam-me palavras mágicas de ilhas encantadas. Adorava ir para os penhascos e cantar esta canção para o mar! .)

Nota: como é possível os Simon & Garfunkel estarem no quadragésimo lugar na lista 100 Greatest Artists of All Time da revista Rolling Stone? Qualquer pessoa com o mínimo de gosto musical terá de colocá-los entre os dez primeiros da música popular. Bhixma dixit!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Primeiras Imagens de Bayreuth 2007

Como vos disse, iniciou-se ontem a nova edição, a de 2007, do Festival de Bayreuth. Pelo que vi nos jornais alemães - e também ouvi na rádio Bartok -, apesar de bastantes vaias, Katharina Wagner recebeu também muitos aplausos pela nova versão dos "Mestres Cantores" de Wagner. Nesta obra de arte wagneriana em que se discute directamente o que é uma obra de arte, Katharina Wagner quis sublinhar a tensão entre criatividade e tradição.
Algumas imagens recolhidas no Frankfurter Allgemeine Zeitung:


Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.
Angela Merkel e Durão Baroso (presença habitual no festival desde que foi para a "Europa") discutem a nova versão dos Mestres Cantores...



Magdalene e Eva, personagens dos Mestres Cantores, falam dos seus amores.



Hans Sachs, poeta-sapateiro, uma das personagens centrais da obra. Nesta nova versão é transformado em escritor e utiliza as teclas de escrever da máquina em vez do martelo...
Diga-se de passagem que não é apenas uma personagem ficional inventada por Wagner. Hans Sachs é uma figura histórica de Nuremberga.



No final, podem ver da esquerda para direita, Katharina Wagner, Angela Merkel, Gudrun Wagner e o "nosso" Barroso.

Scoop


Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.
Já há muito tempo que não me divertia tanto a ver um filme. A crítica arrasou-o, talvez por causa do êxito recente do Match Point. Mas, como todos os comediantes, Woody Allen gosta de se divertir. E não se fez rogado neste último filme (há apenas uma pequena nota trágica no fim, mas bem disfarçada. O malabarista - interpretado pelo cineasta - vê-se na barca da morte enquanto a jovem que ele protegia alcança o seu primeiro grande "furo" - scoop - jornalístico). Julgo que é a primeira comédia de Scarlett Johansson. O balanço final é bem positivo, embora também seja evidente que está a dar os seus primeiros passos neste género. Um bom filme para se ver no Verão.
Clicando AQUI pode ver o trailer do filme.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Bayreuth 2007


Ainda pode estar a tempo de ouvir o terceiro acto dos Mestres Cantores de Nuremberga. Clique AQUI e escolha a sua rádio preferida (a minha é a rádio húngara Bartok)
A abertura do Festival iniciou-se, assim, hoje com a estreia da nova versão dos "Mestres Cantores". Tudo começou às 15:00 (hora de Lisboa) com o primeiro acto; o 2º acto inciou-se às 17:30 e o terceiro e último realiza-se entre as 19:30 e as 21:40. A responsabilidade desta nova versão é de Katharina Wagner, uma das bisnetas do compositor.

DIE MEISTERSINGER VON NURNBERG:
Maestro: Sebastian Weigle
Produção: Katharina Wagner

Hans Sachs Franz Hawlata
Veit Pogner Artur Korn
Walther von Stolzing Klaus Florian Vogt
Kunz Vogelgesang Charles Reid
Konrad Nachtigall Rainer Zaun
Sixtus Beckmesser Michael Volle
Eva Amanda Mace
Magdalene Carola Guber

Para saber mais sobre esta obra e sobre os dramas líricos de Wagner clique AQUI.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Efeito Hervieu



Se tiver dificuldades em ver ou ouvir, clique AQUI.

Para todos aqueles que não gostam muito de ópera, aconselho-vos vivamente as representações do grupo Les Arts Florissants, em particular quando têm como encenadora e coreógrafa Dominique Hervieu (a mesma do post anterior). Na China, o êxito da ópera Les Paladins do compositor francês Rameau foi estrondoso. Podem ver o final desta representação no excerto que vos apresento.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Paraíso


Se tiverem dificuldades em ver ou ouvir, cliquem AQUI

Ainda recentemente fiz referência à falta de imaginação humana na representação do Paraíso. Ora a companhia de dança fundada por José Montalvo e Dominique Hervieu em França, conhecida como "Montalvo-Hervieu", criou há dez anos uma das coreografias mais interessantes sobre o idílio da nossa alma. Esta obra chama-se precisamente "Paradis" e o seu êxito tornou esta companhia num dos pontos de referência da dança contemporânea. Podem ver aqui, numa gravação que deixa muito a desejar, o início da obra.

Nota importante: hoje, pelas 12:45, podem ver no Canal Mezzo a dança "Babelle Heureuse" desta companhia.

domingo, 22 de julho de 2007

Sounds of Silence



Se não conseguir ver ou ouvir clique AQUI

sábado, 21 de julho de 2007

Santo Guinefort


Guinefort é o nome de um célebre cão que viveu na Idade Média (século XIII) em França. O dono deixou-o com o seu filho que ainda era bebé. Quando regressou a casa deparou-se com um espectáculo assustador: o quarto da criança em reboliço e o cão com marcas de luta. Julgando que Guinefort tinha morto o filho, o dono matou-o. Pouco depois apercebeu-se que a criança estava viva, mas que tinha perto de si uma víbora morta. Guinefort tinha sido envenenado ao defender o bebé de um ataque do réptil. A partir desse momento tornou-se um Santo e foi objecto de culto. Não foi um caso único. No País de Gales eram comuns santuários cristãos dedicados a cães. Santo António dava a comunhão ao seu cavalo enquanto São Francisco de Assis pregava aos corvos e amava os lobos. Como não tenho nenhuma imagem do Santo Guinefort, deixo-vos aqui a fotografia do meu cão.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A Nossa Música



Vi recentemente um dos últimos filmes de Jean-Luc Godard, "Notre Musique" (2004). Um belo filme feito com a clara intenção de nos fazer pensar a estranha propensão humana à guerra e à violência. Está dividido em três partes: o inferno, o purgatório e o paraíso. Grande parte do filme passa-se no purgatório, simbolizado pela cidade Sarajevo (ou Saraievo) após o final da guerra civil nos Balcãs. A parte do paraíso foi a que menos me convenceu (uma rapariga que voluntariamente se deixou morrer por amor à paz passeia-se num oásis natural guardado por marines americanos). Razão cínica ou incapacidade de imaginação? Talvez Godard visasse apenas denunciar estas duas vertentes do pensamento contemporâneo. O purgatório tem momentos estéticos bem interessantes, obtidos pelo cruzamento das palavras (textos de autores como Baudelaire e Lévinas), da música (de Arvo Pärt a Kurtag) e da própria montagem cinematográfica.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Protesto musical

Como é habitual, fiquei muito feliz quando recebi em casa o último número da revista Classica Répertoire. Para lá da promessa habitual de receber toda a programação do canal Mezzo numa pequena revista suplementar, este número trazia um dossiê enorme sobre a vida e a carreira espantosa, mas trágica, de Maria Callas.



Mas rapidamente notei num pormenor... O "amigo do alheio" com uma faca delicada abriu o sobrescrito semi-transparente e retirou "calmamente" (deduzo...) o DVD, o CD e - imagine-se - a programação do canal Mezzo que vinham incluídos.
Onde é que já se viu isto?

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Sentido da Vida


“Uma vida que fosse inevitavelmente significativa derrotar-se-ia a si mesma desde o começo. Entre o adulto que sabe que a criança não encontrará sentido (reason) no mundo e a criança que se recusa a deixar de o procurar reside a diferença entre resignação e humildade.”
Susan Neiman, Evil in Modern Thought

sábado, 14 de julho de 2007

Mito Maia/2



"Este é o relato de como tudo estava suspenso, calmo e em silêncio; tudo imóvel, parado e toda a extensão do céu estava vazia.
Este é o primeiro relato, a primeira narrativa. Não havia homens, animais, aves, peixes, caranguejos, árvores, pedras, grutas, ravinas, ervas nem florestas. A superfície da terra ainda não tinha aparecido. Havia apenas o mar calmo e a grande extensão do céu. Nada estava unido, nada fazia ruído, nada se movia ou tremia ou podia fazer barulho no céu. Nada estava de pé. Apenas as águas calmas, o mar plácido, sozinho e tranquilo. Nada existia. Havia apenas imobilidade e silêncio na escuridão, na noite. Apenas o Criador, juntamente com os Antepassados, estava na água rodeada de luz. Estavam escondidos sob plumas verdes e azuis, sendo, por isso, chamados de Gucumatz. Eram, por natureza, grandes sábios e grandes pensadores. O céu existia desta maneira e também o Coração do Céu, que é o nome de Deus, sendo assim que é chamado. Depois, surgiu o Verbo."

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Bayreuth virtual


Em face do post anterior sobre Katharina Wagner e os "Mestres Cantores" decidi levar-vos a Bayreuth...
Gostaria de visitar o auditório, mas só tem bilhetes para daqui a dez anos? Sempre teve curiosidade de ir lá, mas não está para estar sentado durante umas quatro horas em cadeiras um pouco desconfortáveis (não vá a sua atenção dispersar-se da obra)?
Então siga as indicações do Expresso do Oriente e faça uma visita virtual, começando logo no palco...
1º vá ao site oficial clicando AQUI
2º Espere uns segundos
3º Do lado esquerdo, encontra a palavra Information. Clique nela
4º Em "Aktuelle Informationen" surge uma imagem à esquerda do seguinte texto: ""Betrachten Sie die Bühne in einer 360°-Rundumansicht" (numa tradução livre; "Observe o palco numa visão de 360 graus")
5º Clique na imagem e já está em palco... aproxime-se, afaste-se, olhe em todas as direcções! (as teclas Shift e Ctrl dão algum jeito).
6º Sinta-se uma valquíria e cante... (assim tem acompanhamento musical)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Bayreuth aproxima-se...


Katharina Wagner, a bisneta do compositor, vai ter a sua prova de fogo no próximo dia 25 de Julho, o dia da inauguração da nova edição do Festival de Bayreuth. Com efeito, o Festival vai abrir com uma nova produção dos "Mestres Cantores" (Die Meistersinger von Nürnberg) da responsabilidade de Katharina.
Quem vai estar bem atenta a esta nova encenação é Nike Wagner - igualmente bisneta de Wagner e filha de Wieland Wagner.

Nike Wagner é muito crítica da actual gestão de Bayreuth e nunca escondeu o desejo de revitalizar o Festival. O seu pai foi um dos génios da família Wagner, criador das mais belas encenações das obras wagnerianas. Veja-se, a título de exemplo, a pureza e a beleza das imagens seguintes:

No caso de se sentir perdido no meio de tantos Wagners, nada melhor do que consultar a árvore genealógica desta família que marcou para o bem e para o mal muito da história da Alemanha.

Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Os Filhos do Homem


Um dos filmes mais deprimentes que já vi, mas em que a ideia de esperança - identificada com fertilidade - nunca é abandonada. Filme do realizador mexicano Alfonso Cuarón, baseado num romance de P.D. James. Estamos em 2027 e há 18 anos que a espécie humana não conhece novos nascimentos. Em face da mais que provável extinção da espécie humana, tudo entra em colapso (a dada passo até se refere o colapso de Lisboa). O que é perturbador no filme é a proximidade do mundo que nos envolve com aquele que é registado no filme. Mundo da "Waste Land" (poema de Eliot citado pelo personagem interpretado por Michael Caine, "Jasper") em que um sinal de fertilidade, mesmo que vulnerável, é símbolo de uma infinita esperança.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Tosca



Se tiver dificuldade em ver ou ouvir, clique AQUI
Ária da Tosca de Puccini, E lucevan le stelle, interpretada por Pavarotti.

E lucevan le stelle, Mario Cavaradossi's aria from Tosca

E lucevan le stelle The stars were gleaming,
ed olezzava la terra, The ground was fragrant...
stridea l'uscio dell'orto, The creak of the garden gate,
e un passo sfiorava la rena... light footsteps in the sand,
Entrava ella, fragrante, the smell of her hair. She came
Mi cadea fra le braccia... and fell into my arms.

Oh dolci baci, o languide carezze, Oh tender kisses, sweet caresses,
Mentr'io fremente While, trembling, I beheld
La belle forme discioglea dai veli! Her beautiful form freed of its gown.

Svani per sempre il sogno mio d'amore.. Gone forever is my dream of love.
L'ora e' fuggita... Time has fled, and I die in despair!
E muoio disperato! I die in despair,
E non ho amato mai tanto la vita! But never have I loved life so much

Translation copyright ©1999 by Mark D. Lew (markdlew@earthlink.net)
[poetic translation, not entirely literal]

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ocaso


Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.

domingo, 8 de julho de 2007

sábado, 7 de julho de 2007

Butterfly - Un bel di vedremo



Se tiver dificuldades em ver ou ouvir, clique AQUI.
Uma das mais célebres árias de sempre. Texto em italiano, com uma tradução inglesa bem livre:

Un bel dì, vedremo
levarsi un fil di fumo
dall'estremo confin del mare.
E poi la nave appare.
Poi la nave bianca
entra nel porto,
romba il suo saluto.
Vedi? È venuto!
Io non gli scendo incontro. Io no.
Mi metto là sul ciglio del colle e aspetto,
e aspetto gran tempo e non mi pesa,
la lunga attesa.
E uscito dalla folla cittadina
un uomo, un picciol punto
s'avvia per la collina.
Chi sarà? chi sarà?
E come sarà giunto
che dirà? che dirà?
Chiamerà Butterfly dalla lontana.
Io snza dar risposta
me ne starò nascosta
un po' per celia...
e un po' per non morire al primo incontro,
ed egli alquanto in pena chiamerà,
chiamerà: iccina mogliettina
olezzo di verbena,
i nomi che mi dava al suo venire
(a Suzuki)
Tutto questo avverrà, te lo prometto.
Tienti la tua paura,
io consicura fede l'aspetto.

In the day I dream of,
We first will see a tiny thread of smoke
On the far horizon,
And then his ship of splendor!
As the flags are waving,
Proudly it enters the harbor
To the sound of cannon fire.
Homeward comes my hero!
I’ll not go down to greet him, no, no!
I’ll wait here on the hill overlooking.
Too excited, I’ll wait,
Never mind how many hours,
For he remembered.
Emerging from the distant crowded city,
No bigger than a needle,
I see a man slowly climbing.
Is it he? Is it he?
And as he draws still closer,
I can hear! I can hear
As he cries, “Butterfly,
My love, where are you?”
Silent, I dare not answer,
But stay a while in hiding,
Though partly teasing, in part afraid
To die of joy to see him.
Uneasily he looks around and calls,
“Butterfly!
My Oriental blossom!
My delicate verbena!”
And other pretty names that I found so charming.
It will happen exactly as I told you.
So put aside your fears,
For my own faith remains
Unshaken!

Mundo fascinante


Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.
Fotografia de James P. Nelson (2007) para a National Geographic. Gruta na zona de Guangxi Zhuangzu na China.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Apocalypto


Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.
O último filme de Mel Gibson, Apocalypto é um bom filme, com excelentes momentos de realização cinematográfica. Mel Gibson ainda não se libertou de um imaginário de uma violência extrema - bem visível no filme sobre a Paixão de Cristo -, mas talvez através desta cartarse pessoal fílmica consiga, algum dia, libertar-se desta complacência estética no sangue e na dor. Ora os Maias, apesar dos seus rituais de uma violência indescritível (nalguns casos bem piores do que aqueles que surgem no filme), construíram uma grande civilização que atingiu o seu auge no século IX na zona compreendida entre o Sul do México e a Gautemala. Apesar da qualidade do filme, as vertentes científicas e artísticas da civilização Maia são desprezadas, assim como o seu prodigioso sistema mitológico. Mas há - reconheça-se - um belo momento no filme em que é narrado um mito, aqui reproduzido na sua versão inglesa:

"And a Man sat alone, drenched deep in sadness. And all the animals drew near to him and said, "We do not like to see you so sad. Ask us for whatever you wish and you shall have it." The Man said, "I want to have good sight." The vulture replied, "You shall have mine." The Man said, "I want to be strong." The jaguar said, "You shall be strong like me." Then the Man said, "I long to know the secrets of the earth." The serpent replied, "I will show them to you." And so it went with all the animals. And when the Man had all the gifts that they could give, he left. Then the owl said to the other animals, "Now the Man knows much, he'll be able to do many things. Suddenly I am afraid." The deer said, "The Man has all that he needs. Now his sadness will stop." But the owl replied, "No. I saw a hole in the Man, deep like a hunger he will never fill. It is what makes him sad and what makes him want. He will go on taking and taking, until one day the World will say, 'I am no more and I have nothing left to give.'"

É um mito extraordinário; vou tentar confirmar a sua origem Maia ou ameríndia. Brevemente voltarei aos Maias e aos seus mitos maravilhosos.


Clique na imagem para aumentar as suas dimensões.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Tsotsi



Quando fiz uma referência ao excelente filme "O Fiel Jardineiro", o Yoda (que anda tão silencioso como o seu blog Noisexperimental) fez uma comparação com o filme "Tsotsi". É uma obra inesquecível sobre a realidade da África do Sul nos nossos dias. O enredo é simples: um jovem gangster (tsotsi), depois de ferir gravemente uma mulher, rouba o carro desta onde se encontra um bebé. A sua primeira tentação foi livrar-se dele... mas não é capaz. Começa a cuidar dele e o amor que sente por aquela criança vulnerável e indefesa, altera radicalmente a sua personalidade. No final, decide - mesmo correndo um risco de morte - devolver o bebé à sua mãe. Sem ser kitsch - aliás não será o melhor postal de visita à Africa do Sul - é uma história cheia de amor e de coragem. A não perder...

terça-feira, 3 de julho de 2007

O Ilusionista


Apesar de não ser um filme genial, trata-se de uma obra cinematográfica interessante. Um filme, já em DVD, para todos aqueles que gostam do cinema como narrativa. Bons actores, entre eles Edward Norton que tem um dos trabalhos mais difíceis da sua vida. E a razão é simples: ele tem que representar a figura de um ilusionista necessariamente distante e frio, detentor de poderes raros, quase sobrenaturais, ao mesmo tempo que sabemos que ele está profundamente apaixonado. Frieza e paixão não jogam bem no imaginário cinematográfico. Como já é habitual, nestes filmes encantadores sobre a Viena antiga, os símbolos "eternos" de Sissi, da tragédia de Mayerling, da morte enigmática da amante do Príncipe Rudolph, entre tantos outros, regressam em força. E estranhamante o filme baseia-se em factos reais que são entrelaçados com estes eternos arquétipos do ocaso do antigo Império autro-húngaro.