sábado, 16 de outubro de 2004

O Futurismo e o Fascismo

É conhecida a forma agressiva como o nacional-socialismo alemão apreciou a arte dos anos 20. O epíteto "judaico-bolchevique" era o modo mais comum de adjectivar um tipo de criação artística que colidia com os valores estéticos do III Reich. Esta atitude é coerente e expressa o enaltecimento de uma arte imperial que irá moldar a sensibilidade dos anos 30-40. É interessante verificar que um movimento similar se processará na pátria soviética. Após as "loucuras dos anos 20", a arte estalinista vincará a dimensão gigantesca e monumental, bem presente no edifício da Universidade de Moscovo. E em Itália? Por mais estranho que nos possa parecer, é essencialmente o movimento radical futurista que estará na raiz do fascismo italiano. Em 20 de Fevereiro de 1909, o jornal parisiense publica um manifesto do Futurismo, escrito por aquele que, na altura, era o seu único membro: o poeta e escritor Filippo Tommaso Marinetti. Pouco tempo depois, vários pintores e intelectuais italianos aderem ao futurismo (Balla, Boccioni, Carrà, Severini e Primo Conti). Os traços fundamentais desta escola estética são conhecidos: culto do movimento e energia, desprezando a "arte estática" do passado. A cidade, a maquinaria e a velocidade passarão a ser os novos valores culturais. Ora, será em nome deles que o fascismo de Mussolini brotará. O espírito bélico, misógino que despreza o academismo e o espírito de museu, são originariamente princípios do futurismo. Os futuristas são os principais impulsionadores da entrada da Itália na primeira guerra mundial e estarão com Mussolini na famigerada "marcha sobre Roma" de 1922. Marinetti distanciar-se-á mais tarde do Duce por causa do anti-semitismo, mas não deixa de ser sintomático que a energia criativa futurista tenha literalmente desabado no mesmo ano em que a Itália é ocupada pelos aliados. O fascismo italiano é, assim, um estranho regime político, sem paralelo nas outras ditaduras, parecendo ser o corolário de movimentos anarquistas e radicais que, em nome do futuro, abrem o espaço político para um renascimento neopagão da imagem imperial que Mussolini tinha da Roma Antiga e, naturalmente, de si próprio.

4 comentários:

Hibiscus disse...

ei, eu posso me inspirar no seu texto pra apresentar um trabalho na facu?

Bhixma disse...

Claro que sim! Veja os casos de Pirandello e do americano Ezra Pound que viveu na Itália de Mussolini (embora se possa dizer que eles são mais modernistas que futuristas; mas o futurismo é um movimento do modernimso) Espero que faça um bom trabalho e que ele tenha êxito.

Hibiscus disse...

Olá!
Bom, eu sou estudante de museologia mas tenho que fazer uma disciplina na escola de história pra poder me formar. O prof pediu pra dar uma aula sobre fascismo para a turma, mas eu to me sentindo perdida pq eu não sou "licenciatura". Daí eu juntei com os conceitos que aprendi na museologia a manisfestação das artes futuristas em prol do fascismo, mas eu to com medo de falar besteira!
Muito obrigada pelas dicas!

Bhixma disse...

Certamente já consultou o seguinte site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo