domingo, 13 de fevereiro de 2005
A Natureza da Religião
Era meu objectivo relembrar hoje as viagens de Bran - o nosso São Brandão - e citar alguns poemas W.B. Yates. Mas ao visionar o documentário de Plácido Domingo sobre o Parsifal (Parsifal. The Search for the Grail), deparei-me como uma entrevista notável de Karen Armstong, uma das melhores especialistas da história das religiões. As palavras são simples e, no entanto, dizem o essencial: "As Igrejas e as pessoas religiosas em geral esqueceram a própria noção de compaixão. Todas as grandes religiões do mundo insistem que a única base das ideias religiosas, dos símbolos e de qualquer teologia, é a compaixão em relação a todos os seres vivos. O Novo Testamento, os Profetas hebreus e o Corão repetem-no sem cessar. É isto que é a religião. É, também, o que nos é dito na história do Graal. Não se trata de provar a existência de Deus nem de encontrar o Graal para o levar triunfalmente ao Rei Artur. Isso não é a religião. É, sim, abrir o seu coração aos outros, pois só no momento em que nos reconciliamos com os nossos inimigos é que encontramos o divino. As Igrejas esqueceram-se disso, demasiado ocupadas com o seu dogma ou em condenar outros seres humanos que têm crenças diferentes. Dilaceram-se em torno de temas tão ridículos como o de saber se as mulheres devem ascender ao sacerdócio ou sobre qual o melhor tipo de contracepção. (...) Neste século, quantas atrocidades foram cometidas contra seres humanos em nome de Deus enquanto ídolo forjado à nossa imagem. Se nos esquecermos que o divino está presente em qualquer ser humano com quem nos cruzamos, perdemos o próprio sentido da religião."
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Lembrei-me - talvez conheças, de um livro já editado em Portugal: O Monge e o Filósofo com Jean-François Revel e Matthieu Ricard. Revel é um dos mais conhecidos filósofos franceses contemporâneos, agnóstico e quase positivista e Matthieu Ricard é um monge budista (que por acaso, é seu filho). M. Ricard era biólogo, tinha uma carreira brilhante e "de repente" foi para a Ásia. Ele é um dos acompanhantes ocidentais do Dalai Lama. Esse livro, sob a forma de diálogo discute todas as religiões, a sua essência e história (e não apenas a do budismo). É um daqueles livros que relemos.
Por outras palavras: a grande tragédia da religião consiste no facto dos crentes recordarem o Mensageiro e esquecerem a Mensagem.
Enviar um comentário