"No Santuário Shinto, frente ao altar sem budas em que o que é venerado - uma pedra e um espelho - está escondido, [o meu amigo] Masao, de pé, muito direito, inclina a cabeça com as mãos juntas e depois bate de seguida, duas vezes breves palmas.
Diz-me que cada um pede o que quiser e que cada um tem as suas próprias orações, que [o Xintoísmo] é uma religião muito intimista, uma relação privada entre o nosso espírito e o espírito que habita aquele lugar.
Ensina-me a minha primeira e única oração xintoísta:
'Os meus olhos podem ver a sujidade do mundo, mas não aconteça que o meu espírito veja o que não é puro.'
Sentados num banco,[Masao escreve] no meu nikki, o meu caderninho [...] afirmaçãos xintoístas. (...) O que recebemos dos outros devemos passá-los a outros como nos foi entregue. De geração em geração a nossa família conserva e faz perdurar o sagrado, o nascimento e a vida (...) Amamos e veneramos a natureza em todas as suas infinitas formas. Até a prece de uma formiga atinge os céus. A proximidade da natureza purifica-nos, ela é habitação dos espíritos sagrados. Tudo o que não somos tem um poder venerável que nos pode ajudar e proteger na nossa vida. Todas as coisas têm um espírito, um poder que tu não tens."
Pedro Paixão, Portokyoto. Nuvens à deriva
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