terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

Zeami e o teatro Noh

Voltando ao Japão...Zeami Motokiyo (1363?-1443?) escreveu peças de teatro e foi actor na era do Shogun Ashikaga Yoshimitsu. A sua fama como artista provém do facto de ter estabelecido as bases do teatro Noh no Japão. Não foi ele que o criou, mas o estilo que identificamos com o Noh deriva directamente da sua visão genial. No final da sua vida, tornou-se monge Zen. Noh ou Nô é um drama cantado, mas dificilmente se pode comparar com a ópera ocidental ou mesmo com a "ópera chinesa". Os textos cantados combinam a forma poética e a narrativa. O palco está vazio com duas excepções: uma ponte muito estreita (Hashigakai), através da qual os actores entram, e a pintura de um pinheiro (kagami-ita) no fundo do palco. Segundo a tradição, é através dessa árvore que os kami (deuses) do xintoísmo entram no mundo humano. Esta ideia fez-me lembrar as reflexões de Peter Brook sobre a "estaca" vodu - aquela que, no rito religioso, permite aos deuses africanos retornarem para junto do seu povo. Para Brook, o teatro só está vivo quando consegue conjugar o "teatro sagrado" (holy theater) e o "teatro rude" (rough theater), o invisível e o visível. Mas para o fazer, precisa dessa "estaca", mesmo que seja apenas um mero tapete num palco vazio.

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