segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005
O Tempo de um Kabuki
"A sala está cheia. Numerosas mulheres vestem quimono; apenas o fazem alguns homens, sobretudo os mais velhos. Turistas estrangeiros salpicam a assistência em número muito pequeno que se tornará rapidamente mais diminuto, pois nove em cada dez desaparece no final do primeiro espectáculo; os seus guias e amigos japoneses disseram-lhes que um estrangeiro não suporta mais de trinta minutos de kabuki." (Marguerite Yourcenar, Le Tour de la prison, Paris, Gallimard, 1991, p.83). Ora, como assinala a escritora belga, o kabuki pode ter uma duração aproximada de quarenta horas, divididas naturalmente em várias sessões. O mais curioso é que o kabuki constitui uma forma de arte com fortes raízes populares, em contraste com o Noh/Nô. A conclusão é óbvia e não é nova: a civilização moderna ocidental está a roubar-nos tempo enquanto todos nós pensamos o contrário. Faz-me lembrar o romance "infantil" do grande escritor alemão Michael Ende, Momo, no qual "homens cinzentos" nos roubam o tempo com a promessa de que vamos ter mais.
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