O período que vai entre 31 de Maio de 1665 e Janeiro de 1666 corresponde a um dos momentos de maior êxtase na Europa, pelo menos entre as comunidades judaicas. Shabbetai Zevi, filho de judeus sefarditas de Esmirna, declara que é o novo Messias e que a redenção está próxima. Shabbetai era maníaco-depressivo. Nas suas fases de mania, gritava a quem o quisesse ouvir que a Tora tinha sido revogada e que Deus era bendito ao permitir o que era proibido! Nos momentos de depressão, achava-se possuído por demónios. Um dia, visitou na Palestina, em Gaza, Nathan, um rabino adepto da Cabala de Isaac Luria. Este, com alguma dificuldade, convenceu-o que tais oscilações de humor só poderiam ser o sinal de que ele era o novo Messias. Como um rastilho de pólvora, a notícia espalhou-se desde a Holanda à Turquia. Após séculos de humilhação, a esperança surgia entre os judeus. Shabbetai foi preso em Janeiro de 1666 na Turquia e ainda em êxtase, continuou a declarar ser de natureza divina. Por azar, caiu em depressão no dia do julgamento e quando o sultão lhe deu a escolher entre converter-se ao Islão ou ser morto, Shabbetai escolheu o islamismo. Foi um dos dias mais negros para o judaísmo.O Shabbetarianismo, no entanto, não morreu. Ainda hoje, sobretudo na Turquia, ainda existem milhares de adeptos. São conhecidos como os "Donmeh" ("apóstatas"), pois acreditam que Shabbetai deliberadamente desceu ao mais baixo possível para poder libertar a centelha divina aí oculta. Estes apóstatas seguem o seu exemplo: publicamente cumprem as regras do Islão, mas declaram-se fiéis ao judaísmo. A principal herança de Shabbetai foram as ideias de Isaac de Luria que, graças ao seu movimento, se tornaram comuns em todos os meios teológicos, judeus ou não. Ainda hoje, na filosofia de Hans Jonas, ressoa a ideia de que a criação divina deve ser vista como uma contracção infinita do seu Ser, sem o qual o Outro nunca poderia existir. Há quem afirme que Shabbetai Zevi nasceu a 23 de Julho.
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