sexta-feira, 30 de julho de 2004

Sageza

Jean-François Revel em diálogo com o seu filho, o cientista e monge budista, Matthieu Ricard, afirmava que a filosofia, desde a era moderna, tinha perdido a sua dimensão de sageza. Com efeito, é fácil surpreender a transmutação brusca da filosofia enquanto "amor da sabedoria" em "amor do saber". A "arte de viver" transfigurou-se em "epistemologia". Por sua vez, a "ética das virtudes" de sabor aristotélico deu lugar na modernidade a morais fundadas em princípios universais, mas, no essencial, vazios (formalismo kantiano e utilitarismo). A elisão da sageza na cultura ocidental explica o interesse crescente no mundo contemporâneo pela filosofia budista. O budismo surge aos olhos dos ocidentais como uma forma de pensar similar ao estoicismo e ao epicurismo helénicos. Mas, mesmo no Ocidente pós-modernista, existem excepções à concepção da filosofia como epistemologia... uma delas encontra-se na obra do filósofo inglês Alain de Botton. Ninguém fica indiferente ao seu estudo sobre Proust ("Como Proust pode mudar a sua vida"), assim como à obra em que nos oferece as "Consolações da Filosofia" no mundo actual. Enganem-se aqueles que pensam que estamos em face de obras nas quais se gere com eficiência alguns lugares-comuns. O "diletantismo" de Alain de Botton é estudado... Hoje adquiri a tradução portuguesa do livro de Botton, "The Art of Travel", publicado na Dom Quixote. Quando me estou a preparar para as minhas férias, nada melhor do que aprender a forma de as transformar em momentos felizes. Como diria Michel Foucault, mestre de Alain de Botton, importa saber cultivar a arte de "cuidar de si" e dos "outros". Certamente um dos conselhos que vou ler é que se devem evitar improvisos como aqueles que, por falta de sabedoria prática, vou certamente cometer. Afinal, quem é que começa a pensar nas férias no dia em que elas se iniciam?

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