domingo, 25 de julho de 2004

Kundry no Intervalo

Agora que estou no longo intervalo antes do último acto de Parsifal, já me é "visível" a excelente execução musical de Boulez, a beleza da interpretação da Mezzo-soprano americana, Michelle DeYoung - que interpreta a personagem Kundry - e a crescente excitação do público em face desta nova versão do drama musical de Wagner. Mas, neste intervalo, façamos a síntese da intepretação de Lévi-Strauss do Parsifal. Estamos em face de dois mundos, simbolizados por dois castelos, o de Graal e o de Klingsor. O primeiro é uma terra desolada, em que o seu rei está doente, em que os visitantes permanecem em silêncio; o outro é um mundo totalmente oposto, mundo em flor, mundo em que Kundry procura seduzir Parsifal com o amor de mãe que se transmuta em amante. Nenhuma comunicação no mundo do Graal, bem simbolizado pelo silêncio em face da ferida de Amfortas, a que se opõe o jardim de Klingsor, a comunicação sem freio, excessiva. Parsifal fará a mediação, porque visitou os dois mundo e, apesar de ter saído ou ser excluído dos dois, consegue reentrar neles. Este «saber do outro» é a essência da compaixão: "durch Mitleid wissend" - "Saber através da compaixão", ou na definição brilhante de Lévi-Strauss, "conhecer e não conhecer", ou seja, saber o que se ignora.

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