sábado, 22 de janeiro de 2005
Instrumento Óptico
Na minha versão em DVD do "Espelho" de Tarkovsky, encontra-se uma interessante entrevista a Grigory Yavlinsky. Nela, o conhecido e jovem dirigente do partido político Yabloko (literalmente, "maçã") - que ainda recentemente (Outubro de 2004) recebeu em Berlim o Prémio Internacional para a Liberdade - chamava a atenção para um curioso aspecto do filme de Tarkovsky. Apesar de ser um filme autobiográfico, o sentimento generalizado dos espectadores russos era o de que Tarkovsky lhes estava a contar a história que cada um deles tinha vivido. Esta observação fez-me lembrar a conhecida afirmação de Proust segundo a qual “na realidade, cada leitor é, quando lê, o leitor de si próprio. A obra do escritor é ser meramente um tipo de instrumento óptico que ele oferece ao leitor para lhe permitir discernir, o que sem o livro, ele nunca teria visto em si mesmo. O reconhecimento pelo leitor, em si próprio, do que o livro disse é a prova da sua verdade”/"En réalité, chaque lecteur est quand il lit, le propre lecteur de soi-même. L'ouvrage de l'écrivain n'est qu'une espèce d'instrument optique qu'il offre au lecteur afin de lui permettre de discerner ce que sans ce livre, il n'eût peut-être pas vu en soi-même. La reconnaissance en soi-même, par le lecteur, de ce que dit le livre, est la preuve de la vérité de celui-ci" Proust, Le Temps retrouvé
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