quinta-feira, 27 de janeiro de 2005
Sulamita
Fuga sobre a Morte
Leite-breu d' aurora nós bebemo-lo à tarde
nós bebemo-lo ao meio-dia e de manhã nós bebemo-lo à noite
bebemos e bebemos
cavamos uma cova grande nos ares em que ninguém se deita perto
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
ele escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
ele escreve e aparece em frente à casa e brilham as estrelas ele assobia e chama seus mastins
ele assobia e chegam seus judeus manda cavar uma cova na terra
ordena-nos agora toquem para dançarmos
Leite-breu d'aurora nós bebemos-te à noite
nós bebemos-te de manhã e ao meio-dia nós bebemos-te à tarde
bebemos e bebemos
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
que escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
Teus cabelos de cinza Sulamita cavamos uma cova grande nos ares em que ninguém se deita perto
Ele grita cavem mais até o fundo da terra vocês ali vocês ali toquem e dancem
ele pega o ferro na cintura balança-o seus olhos são azuis
cavem mais fundo as pás vocês aí vocês ali continuem tocando para dançarmos
Leite-breu d' aurora nós bebemos-te à noite
nós bebemos-te ao meio-dia e de manhã nós bebemos-te à tardinha
bebemos e bebemos
Na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita ele brinca com as serpentes
Ele grita toquem mais doce a morte a morte é uma mestra da Alemanha
Ele grita toquem mais escuro os violinos depois subam aos ares como fumaça
e terão uma cova grande nas nuvens onde ninguém se deita perto
Leite-breu d'aurora nós bebemos-te à noite
nós bebemos-te ao meio-dia a morte é uma mestra da Alemanha
nós bebemos-te à tarde e de manhã bebemos e bebemos
a morte é uma mestra da Alemanha seu olho é azul
ela atinge -tecom bala de chumbo atinge-te em cheio
na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete
ele atiça seus mastins contra nós dá-nos uma cova no ar
ele brinca com as serpentes e sonha a morte é uma mestra da Alemanha
teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita
Paul Celan
Todesfuge
Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen
Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith
Paul Celan
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3 comentários:
excelente poema para um dia como este.
de qualquer maneira, não me leves a mal, mas esta tradução brasileira... a tradução do Barrento (Cotovia) soa melhor aos nossos ouvidos europeus.
Não levo nada a mal, pois também não gosto muito desta tradução. Tentei melhorar a tradução da Cláudia Calvacanti que está na net, mas ainda não estou feliz com ela. Infelizmente - mea culpa - não tenho comigo a tradução do João Barrento. Vou ver se ainda a descubro.
Mas o Celan, mesmo em alemão, mesmo sem se compreender tudo, é a exacta medida da nossa atitude em face de Auschwitz. O sofrimento não se traduz. Sobretudo quando a sobrevivência é que é o absurdo. Dia de palavras difíceis.
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