domingo, 16 de janeiro de 2005

O Rosto

"Penso (...) que o acesso ao rosto é imediatamente ético. Quando se vê um nariz, os olhos, uma testa, um queixo e se podem descrever, é que nos voltamos para outrem como para um objecto. A melhor maneira de encontrar outrem é nem sequer atentar na cor dos olhos! (...) A relação com o rosto pode, sem dúvida, ser dominada pela percepção, mas o que é especificamente rosto é o que não se reduz a ele. Em primeiro lugar, há a própria verticalidade do rosto, a sua exposição íntegra, sem defesa. A pela do rosto é a que permanece mais nua (...) mais despida também: há no rosto uma pobreza essencial; a prova disto é que se procura mascarar tal pobreza assumindo atitudes, disfarçando. O rosto está exposto, ameaçado, como se nos convidasse a um acto de violência. Ao mesmo tempo, o rosto é o que nos proíbe de matar." Emmanuel Levinas, Ética e Infinito

1 comentário:

Horácio disse...

É sem dúvida a alteridade que vem libertar o homem da sua clausura egoica, dessa sua solidão monádica. Como diz Lévinas, toda a relação social... remonta à apresentação do outro ao Mesmo, sem nenhum intermediário de imagem ou signo, unicamente pela expressão do Rosto.
Um abraço
Horácio