quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

O Professor

Esiste um inegável paralelismo entre "Mistah Kurtz" e o sinistro "Professor" do Agente Secreto de Conrad. É evidente que a figura de Kurtz não se esgota na atitude inquietante do professor bombista, mas este desejo de regeneração da mediocridade do mundo pela "loucura" e pelo "desespero" é comum às duas personagens de Conrad. Julgo que ainda não se deu a devida atenção à capacidade profética de Joseph Conrad de antever as ideologias simultaneamente totalitárias e niilistas que irão assolar a Europa nos anos 30.
E aqui fica uma passagem do Agente Secreto, obra espantosa que, em termos literários, iniciará um estilo que apenas será cultivado por mestres como Graham Greene e John le Carré.
"Toda a paixão está agora perdida. O mundo é medíocre, fraco e sem força. E a loucura e o desespero são uma força. E a força é um crime aos olhos dos malucos, dos fracos e dos imbecis que governam. (...) Toda a gente é medíocre. Loucura e desespero! Dê-me isso como alavanca e eu moverei o mundo. (...) E o incorruptível professor caminhava (...) desviando os olhos da odiosa humanidade. (...)Ele era uma força. Os seus pensamentos acolhiam as imagens de ruína e de destruição. Caminhava frágil, insignificante, descuidado, miserável e terrível, na simplicidade da sua ideia de chamar loucura e desespero à regeneração do mundo."/"All passion is lost now. The world is mediocre, limp, without force. And madness and despair are a force. And force is a crime in the eyes of the fools, the weak and the silly who rule the roost. (...) Everybody is mediocre. Madness and despair! Give me that for a lever, and I'll move the world. (...) And the incorruptible Professor walked (...) averting his eyes from the odious multitude of mankind. (...) He was a force. His thoughts caressed the images of ruin and destruction. He walked frail, insignificant, shabby, miserable--and terrible in the simplicity of his idea calling madness and despair to the regeneration of the world."
Joseph Conrad, Secret Agent

1 comentário:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

É autor que nunca li. que vou adiando. mas fiquei com muita vontade.